Page 24 - Diretrizes para Produção Textual - 2ª Edição
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A abordagem do ensino dos aspectos gramaticais, por meio de práticas reflexivas, apoia-se
          na premissa de que o conhecimento básico da organização dos enunciados e a consciência
          das propriedades morfológicas e sintáticas essenciais da língua sustentam a construção de
          textos e das atividades discursivas em geral. Conceber os fenômenos linguísticos sob esse viés,
          exercitando competências acadêmicas, como a metalinguagem e a metacognição, favorecem,
          inclusive, a formação de leitores e redatores fluentes porque estão conscientes dos recursos
          linguísticos a que podem recorrer e de como eles operam.
          É necessário atentar para o fato de que o domínio da norma-padrão da língua portuguesa
          (que consiste na variante culta formal, próxima, mas não equivalente, à norma gramatical)
          é de fundamental importância para o acesso ao Ensino Superior, por meio dos exames de
          seleção, que exigem tal competência, bem como para a inserção no mercado de trabalho, o
          qual seleciona os candidatos não apenas com base na qualificação e experiência profissional,
          mas também com relação a atitudes e comportamentos, inclusive segundo sua competência
          comunicativa. Embora o domínio da norma-padrão não garanta, por si só, a ascensão social
          ou o pleno acesso a direitos sociais, é inegável que tê-lo e utilizá-lo nas situações comunica-
          tivas pertinentes (visto que essa variedade, como qualquer outra, não é exigida em todos
          os contextos comunicativos) instrumentaliza o usuário para uma participação efetiva na
          sociedade e para o exercício da cidadania.
          O domínio da norma-padrão contribui, ainda, para a consolidação da autoestima linguística, na
          medida em que propicia maior autoconfiança para se expressar e se comunicar com eficiência
          nos diversos campos de atuação social, em especial na vida pública, no campo jornalístico-
          -midiático e nas práticas de estudo e pesquisa, esferas públicas, em que a linguagem e o falante
          são constantemente julgados e avaliados. Demarcando os limites da norma-padrão, destaca-se
          que se trata de “um construto sociocultural que não corresponde de fato a nenhuma das muitas
          variedades sociolinguísticas”, um modelo de língua, cuja referência se atualiza constantemente,
          pois o que é considerado padrão em determinada sociedade varia de acordo com a época, os
          valores e os falantes.
          Contudo, o estudo e o domínio da norma-padrão não excluem o trabalho com as demais variantes
          linguísticas, em todas as suas dimensões, desde os aspectos sociais, geográficos, históricos,
          situacionais (grau de formalidade ou registro) e estilísticos. A forma como o falante emprega a
          linguagem revela traços identitários e reforça crenças, atitudes e comportamentos. A natureza
          essencialmente diversificada e heterogênea das línguas reflete a diversidade dos grupos, ao
          mesmo tempo que os grupos também moldam e modificam as línguas e os dialetos que utilizam.
          Portanto, os recursos expressivos da língua portuguesa devem ser encarados como meios
          de ampliar o repertório linguístico do estudante, no sentido de que ele deve demonstrar conhe-
          cimento da sua língua materna na forma de diferentes variantes linguísticas, usadas, criteriosa
          e cuidadosamente, nos contextos adequados de uso. Afinal, segundo a célebre frase do mestre
          Bechara “Um falante deve ser poliglota na sua própria língua”. Vejamos, a seguir, um exemplo
          de como o falante adequa a linguagem de acordo com o contexto.






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