Page 16 - Diretrizes para Produção Textual - 2ª Edição
P. 16
2. NOÇÕES BÁSICAS PARA O ENSINO DE
PRODUÇÃO TEXTUAL
Para o ensino sistemático da produção textual, é necessário clareza acerca de alguns conceitos
fundantes da área sobre os quais o trabalho será desenvolvido em todos os segmentos. Como
em todas as áreas de conhecimento, há múltiplas concepções acerca de uma mesma noção
técnica. Por isso, neste capítulo, situaremos os conceitos mais importantes, imprescindíveis,
que irão fundamentar e permear a prática pedagógica, de modo a elucidar a terminologia
presente nas matrizes de correção (vide o capítulo 3). Trata-se de conceitos recorrentes nos
documentos basilares (BNCC, matrizes e diretrizes curriculares), materiais didáticos, instru-
mentos avaliativos, planejamento docente, entre outros, os quais visam um alinhamento entre
os segmentos, sendo uma referência complementar às matrizes de Linguagens, sobretudo para
os docentes generalistas do Ensino Fundamental.
2.1. Letramento e multiletramentos
O termo “letramento” surgiu como uma tentativa de expressar uma noção que levasse em
consideração o processo sócio-histórico dos usos da escrita para além da escola. Apesar da
apropriação do discurso escolar sobre letramento, essa é uma noção que abrange os usos da
escrita, inclusive na escola, mas que não se restringe a ela. Numa sociedade extremamente
marcada pela escrita, que impacta todas as esferas da atividade humana, o letramento refere-se
a um conjunto de habilidades implicadas nos usos sociais da escrita. Nesse sentido, o letramento
abrange o processo de alfabetização, pois este também é uma prática social da escrita, mas
ultrapassa o saber ler e escrever, uma vez que implica o exercício das práticas sociais da escrita.
Caracterizado como um processo de imersão nas diversas situações que envolvem o uso social
da escrita (eventos de letramento), o letramento descreve um processo orgânico e amplo das
relações com a escrita, por meio do qual se acessa uma gama de habilidades, os quais, muitas
vezes, ultrapassam os conhecimentos específicos da leitura e escrita. Justamente por abranger
situações sociais tão variadas e tão importantes para o pleno exercício da cidadania, atualmente,
fala-se em letramentos (no plural) ou em múltiplos letramentos, por considerar os diferentes
contextos de uso da escrita (letramento científico, letramento acadêmico, letramento digital,
letramento matemático, letramento literário, entre outros) e as novas relações com a escrita,
que vão além do sistema escrito e que envolvem elementos não verbais e também da oralidade.
Assim, é papel da escola reproduzir, incentivar e promover letramentos diferentes daqueles
praticados no cotidiano, que, muitas vezes, são pouco valorizados, priorizando as práticas de
letramento que têm maior impacto na vida social e para as oportunidades de ação e intervenção.
Em que outras palavras, em que situações fora da escola o estudante seria encorajado a compre-
ender e produzir gêneros, como manifesto, carta de requisição, editorial, entre outros?
Agimos por meio das linguagens, e a escrita é a forma mais prestigiada de linguagem, que
legitima as ações e relações sociais. Portanto, preparar os estudantes para práticas de
letramento relevantes para a inserção e participação social, bem como ensiná-los a agir nesses
eventos e instituições são deveres da escola (KLEIMAN, 2015).
a
16 Diretrizes para Producao Textual - 2 Edição