Page 38 - Diretrizes para Educação Infantil
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Nesse sentido, as próprias crianças organizam suas brincadeiras; elas vão cons-
                      truindo de forma colaborativa as regras de convivência, sem a interferência direta
                      dos adultos. Certamente alguns conflitos poderão surgir nesses momentos, e a
                      função do adulto que observa atentamente o ato de brincar será o de atuar como
                      mediador do processo, para que a própria criança, em uma atuação protagonista,
                      possa refletir e começar a tomar consciência do conviver e relacionar-se com
                      os outros.
                      A brincadeira vai se consolidando como um guia do desenvolvimento humano,
                      torna-se atividade-guia e está intrinsicamente ligada à criação da zona de desen-
                      volvimento iminente.

                                 Para saber mais: Segundo Prestes (2012), o termo veduchaia
                                 deiatelnost foi traduzido em vários momentos por atividade
                                 predominante ou principal. Porém, o termo mais coerente com a
                                 perspectiva vigotskiana é o termo atividade-guia.


                      A atividade-guia não é aquela desenvolvida com mais frequência, repetidas
                      vezes, mas a que conduz e promove mudanças nos processos mentais, gerando
                      desenvolvimento.
                      A brincadeira, como uma atividade vivenciada no cotidiano infantil, potencializa
                      a ação mediadora e colaborativa necessária para o desenvolvimento das funções
                      psicológicas, que se encontram em fase de amadurecimento. É quando as crianças
                      se sentem à vontade para criar, formular hipóteses, dialogar com os colegas,
                      questionar e, assim, vão refletindo sobre as diversas relações que podem ser
                      estabelecidas entre os diversos fenômenos presentes nas experiências. É em uma
                      brincadeira de construir casas com blocos que ela vai estabelecer relações de
                      comparação entre tamanhos e formas, por exemplo. É com esse movimento que
                      será possível transformar aquilo que está na fase de desenvolvimento atual em
                      desenvolvimento iminente.
                                  A brincadeira é fonte de desenvolvimento e cria a zona de desen-
                                  volvimento iminente. A ação num campo imaginário, numa situação
                                  imaginária, a criação de uma intenção voluntária, a formação de um
                                  plano de vida, de motivos volitivos – tudo isso surge na brincadeira,
                                  colocando-a num nível superior de desenvolvimento, elevando-a
                                  para a crista da onda e fazendo dela a onda decúmana do desen-
                                  volvimento na idade pré-escolar, que se eleva das águas mais
                                  profundas, porém relativamente calmas. Em última instância, a
                                  criança é movida por meio da atividade de brincar. Somente nesse
                                  sentido a brincadeira pode ser denominada de atividade-guia, ou
                                  seja, a que determina o desenvolvimento da criança. (VIGOTSKI,
                                  2008, p. 35 apud PRESTES, 2012, p. 165)





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