Page 23 - Diretrizes para Educação Infantil
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Nesse sentido, a atuação docente na Educação Infantil tem as suas especifici-
             dades, sua identidade e deve estar ancorada nos pressupostos e nas teorias que
             fundamentam a prática pedagógica proposta por esta diretriz. Agir metodolo-
             gicamente considerando as peculiaridades da educação de crianças pequenas
             torna-se fundamental para não reafirmarmos a “[...] tendência – atualmente
             predominante – de construir, na Educação Infantil, um trabalho dirigido ape-
             nas à antecipação e/ou preparação para a alfabetização”. (BARBOSA; CANCIAN;
             WESHENFELDER; 2018, p. 54 e 55)
             Articuladas à concepção de infância aqui proposta, as ações desenvolvidas pelos
             educadores para criar as condições adequadas ao ensino e à aprendizagem devem
             estar voltadas para uma concepção na qual o educar, o cuidar e o brincar
             acontecem de forma integrada, em uma relação de corresponsabilidade e partici-
             pação mútua na construção do conhecimento.
             Assim, o professor de Educação Infantil precisa conhecer os sujeitos envolvi-
             dos no seu contexto, não a partir de uma visão “adultocêntrica”, mas de uma
             perspectiva que verdadeiramente legitima a cultura infantil dos dias de hoje. Só
             compreendendo as peculiaridades da infância, será possível pensar em uma ação
             pedagógica que atenda às reais necessidades das crianças.

                       Para saber mais: As crianças não são vistas apenas como
                       consumidoras de culturas produzidas pelos adultos. Os estudos
                       de Corsaro (2002), e Sarmento (2003) mostram que as crianças
                       produzem a sua cultura a partir da relação que estabelecem com
                       o mundo adulto, apropriando-se e transformando as manifestações
                       e práticas culturais. Nesse contexto, destaca-se os estudos de
                       Florestan Fernandes (1979) que observou o processo de formação
                       da cultura infantil a partir das brincadeiras, da formação de
                       grupos de crianças, das interações estabelecidas nesses momentos
                       em que a ludicidade se manifesta como elemento primordial da
                       cultura infantil.


             Nesse sentido, a organização da sala de aula deve ser inversa aos princípios de
             uma prática tradicional, na qual prevalece a simples transmissão de conteúdo.
             Ela deve ser organizada pelo educador com o objetivo de envolver as crianças em
             experiências promotoras de novas aprendizagens, pautadas no diálogo enga-
             jador, nas possibilidades de investigação e invenção de novas ideias, nas soluções
             pensadas para os problemas do cotidiano infantil. Móveis, mesas e cadeiras
             devem ser dispostos e organizados para estimular a socialização, a partilha e as
             interações entre os estudantes, com espaços para contação de histórias, rodas de
             conversa, brincar, realizar experiências, entre outros.
             Nesse caso, ao incentivar a participação das crianças, o educador estará oportuni-
             zando a construção da autonomia, além de desenvolver os fundamentos para que
             elas atuem no mundo de maneira crítica, exercitando a sua cidadania.



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