Page 103 - Diretrizes para Educação Infantil
P. 103

Refletindo sobre a questão do tempo no cotidiano, é importante que hoje dispen-
             semos o automatismo com que realizamos as atividades do dia a dia para que o
             tempo de qualidade se faça presente no cotidiano da vida escolar, transformando
             as relações de convívio, por vezes corriqueiras, em verdadeiros encontros, parti-
             lhando vivências, interagindo com o outro, observando os movimentos indivi-
             duais e coletivos das crianças, contemplando a natureza. De acordo com Barbosa
             (2013), “é o tempo que nos oferece a dimensão de durabilidade, de construção de
             sentidos para a vida, seja ela pessoal ou coletiva”. (BARBOSA, 2013, p. 215)
             No sentido de perceber o tempo não apenas como o tempo cronológico
             (do relógio), mas de entendê-lo como o tempo da oportunidade, do instante
             vivido com qualidade, Barbosa (2013) nos lembra da necessidade de refletir sobre
             como o tempo está sendo aproveitado na Educação Infantil, chamando atenção
             para aspectos da prática pedagógica que trazem esta dimensão do tempo como
             momento de encontro, partilha, convívio, presença, tanto para os educadores
             quanto para os estudantes.
             É necessário compreender o cotidiano como lugar do convívio, das relações, das
             trocas que ocorrem em todos os momentos em que crianças e adultos, presentes
             no espaço escolar, constroem novas aprendizagens não apenas no nível cognitivo,
             mas também na sua dimensão integral (afetiva e social).
             É nesse espaço e por meio da organização do tempo diário que a criança terá
             oportunidades de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e
             com os outros e aprender a ser (Delors et al, 1998), com o objetivo de formação de
             um sujeito protagonista do seu processo de aprendizagem, comprometido com a
             cultura da paz, da solidariedade, e de uma consciência planetária.
             É importante, porém, refletir sobre a forma como se organiza esse tempo, de
             maneira que o estudante tenha possibilidades de ser ouvido nas suas necessidades,
             de falar aquilo que pensa e entende. Ele torna-se agente ativo e transformador,
             que, a partir dos seus desejos e interesses, pode sugerir novas experiências
             (o inesperado), interferindo diretamente na execução daquilo que foi planejado.
             Assim, ele deixa de ser refém de uma sequência de atividades diárias voltadas
             para uma ação mecânica do processo de aprendizagem e desenvolvimento. Dessa
             maneira, entendemos que o cotidiano considera e “[...] escuta o extraordinário
             que existe no dia a dia. O cotidiano é onde se aprende a ver a beleza das pequenas
             coisas”. (BARBOSA, 2013, p. 219)
             A brincadeira é compreendida da mesma forma no cotidiano da Educação Infantil:
             ela une, envolve, promove a formação de vínculos, parcerias e cria diversas
             possibilidades de encontro. Por ser uma atividade estruturante na vida dos sujeitos,
             composta de elementos de fantasia, imaginação, simbolismos que colaboram
             para pleno desenvolvimento dos sujeitos, o tempo destinado a ela na jornada
             diária não pode ser somente o tempo do relógio, cronometrado. Que também seja
             o tempo da oportunidade de criar experiências de brincar com qualidade.




             102  Diretrizes para Educação Infantil
   98   99   100   101   102   103   104   105   106   107   108