Page 102 - Diretrizes para Educação Infantil
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Cabe aqui estabelecer uma diferenciação entre aquilo que se constitui como rotina
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e o que vem a ser o cotidiano, explicando também o motivo pelo qual atualmente o
conceito de cotidiano suprassume, ou seja, incorpora o conceito de rotina.
O termo rotina faz parte do universo da educação das crianças pequenas desde
quando elas passaram a frequentar as instituições escolares. Ela ainda é considerada
extremamente importante e central na organização da proposta educativa que
combina educação e cuidado, e orienta a ação docente para as práticas pedagógicas
que deverão ser realizadas, considerando o que foi planejado.
As rotinas são estruturadas a partir da organização das atividades que serão reali-
zadas no dia – como por exemplo, chegada, momento da oração, rodinha, ativida-
des, lanche, higiene, parquinho, saída – tornando-se uma sequência de atividades
repetidas, habituais, que são realizadas diariamente, na busca pela organização do
cotidiano. Nesse sentido, ela pode tornar-se “apenas um esquema que prescreve o
que se deve fazer e em que momento esse fazer é adequado”. (BARBOSA, 2006, p. 41)
Desse modo, a utilização do termo rotina remete a uma estruturação da vida co-
tidiana no contexto escolar voltada para a uma organização única, estrutura-
da, com pouca flexibilidade para atender o tempo da criança. Está voltada para
uma concepção de educação transmissiva, na qual a rotina é o instrumento para
cumprir o que foi planejado, considerando apenas o compromisso docente com
o ensino. No interior desta rotina enrijecida não sobra espaço nem tempo para
emergir o protagonismo do estudante, com seus desejos e curiosidades, nem
mesmo para que o professor possa ouvi-lo e observá-lo.
Barbosa (2006) considera que essa rotina atua em um processo de “alienação” do
sujeito, pois desconsidera o ritmo individual da criança, as formas como elas se
socializam, seu modo de participar das situações, sua imaginação, entre outros.
Quando [a rotina] se torna apenas uma sucessão de eventos, de
pequenas ações, prescritas de maneira precisa, levando as
pessoas a agirem e a repetirem gestos e atos em uma sequência
de procedimentos que não lhes pertence nem está sob seu
domínio, é o vivido sem sentido, alienado, pois está cristalizado
em absolutos. É fundamental, ao criar rotinas deixar uma ampla
margem de movimento, senão encontraremos o terreno propício à
alienação. (BARBOSA, 2006, p. 45)
O cotidiano, por sua vez, é aquilo que fazemos diariamente, rotineiramente, em
um tempo e espaço onde o imprevisível também pode aparecer, modificando a
percepção do tempo, o desenvolvimento das atividades, e que deve ser observado
de forma atenta, pois pode emergir do inesperado novas experiências, novas
aprendizagens.
9 A proposta de pensar na organização dos espaços e tempos da Educação Infantil ganha
força com os estudos de Barbosa (2000) e Fochi (2013).
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