Page 25 - Diretrizes Curriculares Educação Inclusiva - Edição II
P. 25
principal quando se pensa na importância do contexto para a efetividade do
processo de ensino-aprendizagem e participação nas escolas.
A inclusão é uma resposta à exclusão. Demanda clareza sobre ações trans-
formadoras da escola que começam pelo acolhimento da diversidade dos
estudantes e que se dão como um processo que implica modificações sig-
nificativas das representações sobre diferenças (PLAISANCE, 2016). Este
autor chama atenção para evitar um olhar abstrato sobre os processos de
exclusão-inclusão, alertando para dois principais obstáculos que, segundo
ele, impactam a inclusão escolar, apresentados a seguir.
• Barreiras humanas e materiais, tais como falta de adequação razoável,
escassez de recursos materiais, turmas numerosas, ausência de apoios,
resistência de familiares, incipiente qualificação docente etc.
• Discurso moral e abstrato em favor da inclusão mediante apelo, senti-
mentalismo e frases de efeito. Essa retórica pode dissimular processos
ocultos de exclusão, sem que medidas efetivas tornem os estudantes
membros participativos da comunidade escolar, com possibilidades
concretas de aprendizagem e realização das atividades curriculares, e
sem que as escolas passem por transformações culturais e educativas
para acolher todos os estudantes.
Plaisance (2010) ressalta que a educação inclusiva enfrenta um grande de-
safio para combater o preconceito e a discriminação, além de demandar
esforços para oferecer os apoios necessários às práticas educativas para todos
os estudantes. Reconhece que as representações sociais de deficiência que
circulam pela cultura e os efeitos históricos de termos empregados — como
anormal, débil, incapaz etc., ainda em uso popular — estão na base de atitu-
des preconceituosas que afetam o ambiente escolar.
Mesmo a expressão “necessidades especiais” não está livre de conotações
depreciativas, cujas fontes se instauram nas estruturas socioculturais e socie-
tárias. Em relação à natureza fusional entre o que é real e representacional,
historicamente situada, Chauvière afirma:
[...] a questão da deficiência ocupa um espaço singular onde existem
fortes designações e pesadas ignorâncias. Ou minimizaram para reduzir
seu impacto social potencial ou imaginário ou, ao contrário, a superesti-
maram para exaltar seu sentido profundo em termos de caridade, de so-
lidariedade ou de cidadania necessária. (2003 citado por PLAISANCE,
2010, p. 25)
25