Page 10 - Diretrizes para Produção Textual - 2ª Edição
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Assim como os eixos temáticos ou os temas transversais, os campos de atuação configuram-se
          como contextos para as práticas de linguagem, ao situar as práticas de letramento. Dessa for-
          ma, os campos não configuram conteúdos propriamente ditos, mas como esferas de circulação,
          em que determinadas práticas ocorrem, como meio jornalístico, pessoal, artístico-literário,
          entre outros. Cada gênero textual circula tipicamente em um campo de atuação específico, pois
          a função social, as condições de produção, recepção e divulgação de dado gênero varia de acor-
          do com o campo de atuação. Portanto, pela natureza de “pano de fundo”, os campos de atuação
          social perpassam o desenvolvimento das habilidades e dos conteúdos nucleares, sobretudo
          aqueles relacionados às práticas de produção e oralidade, uma vez que é essencial vislumbrar a
          esfera de circulação para gerar qualquer texto.
          Devido à complexidade desse componente curricular, faz-se necessário um trabalho integrado,
          que contemple as diferentes dimensões do estudo da língua: a literatura, os aspectos formais
          (gramática), a leitura e a produção textual, conforme as especificidades do segmento e da rea-
          lidade local.
          Nesse contexto, é necessário considerar o ensino da língua sob diversas perspectivas. A primei-
          ra delas trata da correlação entre os múltiplos gêneros textuais, bem como entre as diversas
          manifestações da linguagem, observando-se semelhanças e diferenças, inclusive propiciando
          trabalhos que deixem claras a transposição entre linguagens e a articulação entre elas. São
          habilidades importantes a serem desenvolvidas no que diz respeito ao tratamento da informa-
          ção: a análise e a síntese, envolvendo todos os processos de leitura, principalmente nas artes e,
          em particular, na literatura, nas escolhas dos textos não verbais e verbais escritos ou orais; e a
          identidade, contemplando a diversidade cultural. O estabelecimento de relações na integração
          entre diversas manifestações culturais, a partir da identificação de suas propriedades, promove
          o diálogo entre os conhecimentos. Com isso, tem-se como resultado uma visão de mundo mais
          crítica, no que tange às diferentes formas de representação da realidade.
          No que se refere ao trabalho com a produção textual, ressalta-se a natureza processual, tanto
          escrita quanto oral, pois determinadas situações de fala também pressupõem planejamento e
          monitoramento, bem como adequação ao contexto de divulgação (mídia), ao público-alvo e à
          variante linguística pertinente. Assim, as situações de aula envolvendo esse componente cur-
          ricular devem valorizar as etapas de planejamento, textualização/verbalização, perpassando a
          revisão (edição de texto, áudio e vídeo) e culminando na reescrita com os devidos ajustes.
          A recepção (prática de leitura/escuta) e a produção textual (práticas de produção escrita e mul-
          tissemiotica e oralidade) – tanto de textos literários quanto de textos não literários (técnicos
          ou funcionais) – promovem a autonomia e o protagonismo estudantil, uma vez que, especial-
          mente a produção textual, instiga o processo de autoria, a tomada de decisão e uma postura
          ativa constante do escrevente.
          Esses pressupostos convergem para uma perspectiva sociointeracionista de língua, ao con-
          siderar que o ensino da Língua Portuguesa deve estar associado ao exercício de uma forma
          específica de interação social, por meio da linguagem, isto é, não há a possibilidade de aula de
          Língua Portuguesa cujo ponto de partida e de chegada não seja o texto situado nas práticas de
          linguagem. Logo, não há lugar para uma prática pedagógica das linguagens descontextuali-
          zada, desassociada de um contexto comunicativo, sem considerar as condições de produção e
          recepção nem os sujeitos envolvidos.



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