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O eixo leitura “compreende as práticas de linguagem que decorrem da interação ativa do leitor/
ouvinte/espectador com os textos escritos, orais e multissemióticos e de sua intepretação”
(BRASIL, 2018, p. 71). Ora, esse movimento de interação mútua entre texto, autor, leitor/
ouvinte/espectador é típico das práticas de linguagem contemporâneas, as quais consideram
os novos e múltiplos letramentos, os gêneros multissemióticos e multimidiáticos. Nesse sentido,
a perspectiva de leitura adotada pela BNCC não se restringe ao texto escrito, mas considera
também as imagens estáticas ou em movimento e o som, que são assimilados e, em muitos
casos, cooperam para a tessitura textual.
Por sua vez, os multiletramentos modificam a forma como nos relacionamos com a escrita,
construindo novas formas de participação social e redefinindo os tradicionais papéis de autor
e leitor, agora dissipados pela fluidez da internet e da hipertextualidade, que propicia trilhas
de leitura únicas, personalizadas e não lineares. Deixamos, assim, de ser meros consumidores
para sermos coautores de conteúdos. Além disso, os processos de edição e produção de textos,
imagens, vídeos e áudios têm sido cada vez mais acessíveis e participativos, o que democratiza
e favorece a interação entre os participantes, alimentando uma troca constante entre os atores
desses processos. Contudo, a facilidade de acesso e a disponibilidade de conteúdos quase que
ilimitada não garantem a fluência digital. Embora os estudantes sejam considerados nativos
digitais, são também considerados, por alguns teóricos, como “inocentes digitais” (FERRARI;
MACHADO; OCHS, 2020), uma vez que carecem de uma educação tecnológica e midiática para
selecionar e lidar criticamente com as informações que circulam livremente na web.
Impõe-se à escola, portanto, o desafio de preparar os estudantes para o uso técnico e ético
dessas novas práticas de linguagem e produção. Aliada ao tratamento crítico e ético dos
multiletramentos, a questão da diversidade cultural configura um pressuposto para as práticas
de linguagem, inclusive de leitura. Desse modo, a formação do leitor pressupõe leituras que
contemplem “o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias,
a cultura digital, as culturas infantis e juvenis” (BRASIL, 2018, p.70). A BNCC prevê, ainda, o
reconhecimento e a valorização das realidades nacionais e internacionais e das respectivas
variantes linguísticas, promovendo o respeito às diferenças.
Além disso, a diversidade cultural deve ser promovida pela presença e valorização de textos de
autores afro-brasileiros, dos povos originários (indígenas), da literatura marginal e de outras
minorias. Contribuirá, também, para a formação de um leitor crítico e competente a exposição
aos diversos gêneros, indo além dos materiais didáticos e paradidáticos, lendo e discutindo
quadrinhos, poemas, biografias, mapas, artigos científicos, podcasts, documentários, entre
outros gêneros específicos de cada área de conhecimento e que circulam nos diversos campos
da atividade humana.
Os sujeitos leem espontaneamente sobre aquilo que os interessa, conforme seus gostos e prefe-
rências pessoais. Leem também os gêneros que estão mais próximos de sua realidade linguística
e social. Nesse sentido, a valorização das diferentes leituras, temáticas e gêneros é acolhida e
incentivada na escola, como tão bem retrata a tirinha a seguir:
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