Page 9 - Guia de práticas e projetos de leitura: o papel da biblioteca e integração da escola
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Para Silva (1999), a leitura pode ser compreendida sob três aspectos: leitura como interação,
          leitura como produção de sentido e leitura como compreensão e interpretação. No primeiro
          ponto, o sujeito cria interação com o texto a partir do seu repertório. No segundo, os diferentes
          repertórios de cada indivíduo criam diferentes sentidos para o texto. Sobre o terceiro, o autor
          afirma que “toda leitura envolve um projeto de compreensão e um processo de interpretação”
          (SILVA, 1999, p. 17, grifos do autor). Coracini (2005, p. 25) reforça o aspecto da leitura como
          interpretação, ao afirmar que “ler é, em primeira e última instância, interpretar”.
          Diante da existência de concepções distintas de leitura, a escola, e consequentemente seus
          estudantes, ficam sujeitos às diferentes visões dos educadores. Em relação a esse aspecto,
          Colello (2010, p. 39) afirma que
                      é curioso observar que diferentes concepções historicamente construídas
                      sobre leitura coexistem na escola, criando um cenário de imprecisão de objetivos,
                      ineficiência das práticas de planejamento e de avaliação, desajustamento
                      metodológico, insegurança dos professores, desequilíbrio do projeto educativo
                      e incerteza dos resultados.
          A partir desse cenário, a autora indaga sobre “quais as concepções sobre leitura que hoje
          influenciam as práticas pedagógicas” (COLELLO, 2010, p. 40). Como visto anteriormente, a
          concepção estruturalista é uma delas. Isso indica que, mesmo modelos considerados ultrapas-
          sados por alguns autores, continuam influenciando o trabalho com leitura nas salas de aula.
          Por isso, é fundamental estabelecer um entendimento mais amplo sobre o processo de leitura,
          de modo a permitir que educadores explorem possibilidades e beneficiem seus alunos na cons-
          trução de um “sujeito leitor”. Como afirma Colello (2010, p. 40), “nem sempre o estudante é
          convidado para a aventura da comunicação, tampouco para o desafio de interpretar o mundo
          incorporando os seus próprios pontos de vista”.
          Para Perroti (1990, p. 63), é importante reconhecer que “a leitura não é um ato natural, mas
          cultural e historicamente demarcado”. Nesse sentido, Coracini (2005, p. 39) indica que, “se
          alargarmos a concepção de leitura e considerarmos uma possibilidade de perceber o espaço
          social, então ler passa a significar lançar um olhar à nossa volta e perceber o que nos rodeia”.
          Colello (2010, p. 41) também reforça esse conceito, ao definir que “a leitura é um ato de
          cognição que implica e pressupõe um certo posicionamento no mundo”. Silva (1999, p. 15)
          complementa ao afirmar que “a leitura é uma prática social e histórica, sofrendo, por isso mesmo,
          transformações com o passar dos tempos”.
          Com relação a tais transformações, é importante ressaltar que elas são necessárias e se dão em
          virtude das mudanças na sociedade e do avanço da tecnologia. A leitura dos textos em formato
          eletrônico, por exemplo, configura-se como um desafio que impõe novas reflexões ao ensi-
          no-aprendizagem da leitura (SILVA, 1999). Coracini (2005) reforça essa ideia ao falar sobre a
          interação do leitor com esse novo modelo de texto. Para ela, “a participação do leitor pode ser
          ainda maior quando livros eletrônicos para fins pedagógicos lhe dão a possibilidade de recortar
          e colar trechos, sublinhar passagens, pôr na memória páginas ou escrever nas margens”
          (CORACINI, 2005, p. 34).




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