Page 8 - Guia de práticas e projetos de leitura: o papel da biblioteca e integração da escola
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1. O PAPEL DA LEITURA
NA FORMAÇÃO DO SUJEITO
1.1 Concepções de leitura
As concepções de leitura possuem conotações distintas de acordo com a perspectiva teórica
adotada. Dentro do contexto escolar, por exemplo, a escolha de uma determinada perspectiva
pode ser definida como estratégia didática em atividades específicas, cabendo ao professor
estabelecer critérios para sua utilização. Algumas dessas concepções podem ser consideradas
“redutoras da leitura”, conforme sinaliza Silva (1999). Para o autor, uma visão limitada
“despreza elementos fundamentais da leitura, diminuindo a sua complexidade processual”
(SILVA, 1999, p. 12).
Diante de diferentes perspectivas, faz-se necessário buscar conceitos de leitura que possam
subsidiar e direcionar a prática escolar, de modo a contribuir com a formação integral das crianças
e jovens maristas. De acordo com o Projeto Educativo do Brasil Marista,
vivemos um tempo em que somos convocados a nos debruçar sobre alguns
conceitos que, de alguma maneira, exercem influência sobre as formas como
vemos, dizemos, pensamos e praticamos a educação em nossas escolas.
(UMBRASIL, 2010, p. 50-51).
Nesse sentido, o presente Guia de práticas e projetos de leitura: o papel da biblioteca e integração
da escola tem o propósito de apresentar conceitos relevantes e estabelecer caminhos possíveis
para uma melhor compreensão sobre o tema, de modo a orientar o trabalho com a leitura
desenvolvido nas unidades socioeducacionais. Antes de estabelecermos algumas concepções,
é fundamental apontar perspectivas de leitura consideradas como não adequadas ao contexto
escolar por alguns autores. Conforme apontado por Silva (1999), perspectivas “simplistas”
limitam a compreensão do processo e das práticas de leitura. Para ele, conceitos como: “Ler é
traduzir a escrita em fala”, “Ler é dar respostas a sinais gráficos”, “Ler é extrair a ideia central”,
“Ler é seguir os passos da lição do livro didático”, “Ler é apreciar os clássicos” e “Ler é decodifi-
car mensagens” são visões incompletas do processo de leitura, podendo “levar a resultados alta-
mente nefastos para a educação escolarizada dos leitores”. O autor afirma, ainda, que paradigmas
teóricos “que não levam em conta as múltiplas facetas e a essência do ato de ler” produzem
“leitores mancos” (SILVA, 1999, p. 15).
Perceber o processo de leitura como “decodificação” faz parte da concepção teórica conhecida
como estruturalista. Nesse modelo, o texto é colocado em primeiro plano e o leitor é visto como
alguém passivo, que apenas decifra palavras e ideias. É também conhecido como modelo
bottom-up, pois a leitura se dá do texto para o leitor (de baixo para cima). Nessa concepção, o
texto “ganha existência própria, independente do contexto e da situação comunicativa” e o
leitor não tem nenhum papel ativo, a não ser o de decodificar o texto (PANICHELLA, 2015,
p. 43). Apesar das limitações identificadas nesse modelo, a leitura como decodificação ainda é
aquela que encontra maior adesão no meio escolar. Coracini (2005, p. 39) confirma esse
argumento ao afirmar que as diferentes concepções teóricas que coexistem na literatura da
área apontam que “aquela com mais sucesso na escola é a concepção estruturalista [...]”.
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