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Esse desejo de mudança implica reconhecer a necessidade de que outros atores importantes
também contribuam para que o processo de leitura se desenvolva. O papel da escola, muitas
vezes, precisa ser complementado com a atuação e o acompanhamento das famílias. Além
dos professores, pais, mães, irmãos, avós, tios, entre outros, têm um papel relevante no de-
senvolvimento do processo de leitura. O ato de ler se inicia, com frequência, no ambiente
familiar, como uma prática afetiva entre adultos, crianças e adolescentes. Conforme pontua
Patte (2012, p. 60), “a leitura é algo que se compartilha e pode ser plenamente vivido em família.”.
O inverso também pode ser percebido na rotina escolar: muitas vezes familiares que não têm
o hábito da leitura podem ser estimulados a estar mais próximos dessa prática por meio de
provocações trazidas pelos estudantes a partir de tarefas de casa, apresentações e mostras
promovidas pelos educadores.
Segundo Machado (2011, p. 35), “pais e professores que leem têm um papel poderosíssimo
na transmissão do gosto pelos livros.” A autora afirma que “[...] a leitura de bons livros,
além de toda a força da experiência estética vivida, de intenso conteúdo emocional, nos dá algo
extraordinário: ensina a tolerância a cada indivíduo e nos facilita o convívio com a diversidade
cultural e social” (MACHADO, 2011, p. 27). Nesse sentido, Patte (2012, p. 63) argumenta que
As leituras autênticas mobilizam o psiquismo e alimentam a vida interior da
criança. É o que importa. Elas a ajudam a viver melhor a infância hoje. Não
sabemos se ela será, adulta, uma leitora convicta. O importante é o presente
que está vivendo e que compartilhamos com ela.
Assim, o mais importante é garantir que a criança viva o presente e tenha acesso a textos variados
e de qualidade pedagógica. A formação do adulto leitor requer um caminho longo. Durante esse
percurso, a qualidade do que é lido e a quantidade do que se lê deverão se equilibrar com
a relevância das experiências de leitura vivenciadas por cada sujeito. Quantidade de leitura,
nesse caso, não implica novos leitores, principalmente quando não se está preparado para
compreender o tipo de texto apresentado. 1
A esse respeito, Freire (1989, p. 27) afirma que “a insistência na quantidade de leituras sem o
devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados,
revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada”. Ele afirma acreditar
“que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes
‘leiam’, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea
que às vezes temos do ato de ler” (FREIRE, 1989, p. 26). Sobre esse aspecto, Colello (2010, p. 44)
pontua que “ensinar a ler não é estimular qualquer interpretação do leitor, mas instituir um
verdadeiro diálogo de negociação de sentidos a partir dos indícios do texto”.
É a partir desse diálogo leitor/texto que o processo de leitura se estrutura. No contexto da sala
de aula, essa dinâmica não deve estar atrelada apenas a um componente específico. É funda-
mental que seja um trabalho assumido por todos, a partir do campo de conhecimento específico
1 A última pesquisa “Retratos do Brasil”, realizada em 2019 em parceira com o Itaú Cultural e o Instituto Pro-Livro, aponta justa-
mente uma queda no número de leitores no país. De acordo com essa pesquisa, para ser considerado leitor, é necessário ter lido
pelo menos partes de um livro no intervalo de três meses. Mais informações sobre a pesquisa: https://www.itaucultural.org.br/
secoes/noticias/retratos-leitura-pais-le-menos
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