Deus não “largava o meu pé”.

Ir. Joaci Pinheiro de Sousa

Deus não “largava o meu pé” – assim se refere o Ir. Joaci Pinheiro de Sousa ao mencionar que Deus o fez merecedor da Sua misericórdia e compaixão. “Ele quis fazer da minha pequenez e fraqueza um sinal do seu amor”, afirma Ir. Joaci. Não é à toa este forte laço com Deus. A história vocacional do Ir. Joaci começou ainda na infância, dentro de uma família com fortes traços de devoção mariana. E o ponto de partida para a vocação marista foi a percepção de atitudes fraternas na comunidade de Irmãos maristas, da qual frequentava.

A partir daí, e sem nenhuma certeza, Ir. Joaci realizou o processo formativo na Comunidade Marista de Apipucos, em Recife (PE). Muitos Irmãos foram exemplo para ele, como referências de cuidado e respeito. Depois desta experiência, ele nunca mais parou, e, em sua trajetória marista, Ir. Joaci fez de tudo um pouco. Passou por colégios, obras sociais e casas de formação. Atualmente, é animador da Comunidade Marista do Recanto Nazaré, em Recife. Ele continua tendo sonhos e esperanças, e deseja ser presença significativa na vida dos Irmãos, nesta nobre missão que agora inicia no Recanto Nazaré.

Quer saber mais sobre a vida deste Irmão, que Deus não “larga o pé”? Leia a entrevista abaixo e conheça um pouco mais desta história!

1) Ir. Joaci, por que a sua história vocacional começou na sua família? No livro Simplesmente Irmãos 1, o senhor fala que Deus “não larga o seu pé”, pode nos contar qual o significado desta expressão?

Creio que a maioria absoluta das pessoas que procuram responder ao chamado de Deus em suas vidas tem consciência de que a família está no fundamento da sua vocação, ou alguém que exerceu influência direta na sua formação cristã.

Eu venho de uma família católica por tradição e convicção, e praticante da fé cristã, com uma forte devoção a Nossa Senhora. Minha mãe, no dia em que não rezava o rosário completo, procurava rezar ao menos o terço, e quase sempre convidava o marido e os filhos para estarem rezando com ela.

Carrego comigo uma imagem inesquecível da minha mãe rezando o terço e olhando pela janela da casa, quando ainda morávamos na roça. Ela rezava e acompanhava a saída em viagem, do marido ou de algum dos filhos. Ali ela rezava e colocava aquela pessoa, em viagem, sob os cuidados de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Assim começou a minha história vocacional: em família e com fortes traços da devoção mariana da minha mãe!

E Deus “não largou mais o meu pé”! Estou muito convicto dessa expressão, que é uma realidade, na minha vida, como na vida de qualquer ser humano! Ele não larga o meu pé, não porque eu sou merecedor, por meus próprios méritos, mas porque Deus me fez merecedor da Sua misericórdia e compaixão, por Seu amor e liberdade para comigo! Ele quis fazer da minha pequenez e fraqueza um sinal do seu amor. É assim que diz o salmista: “Tu me proteges por detrás e pela frente, colocas sobre mim a tua mão. Se subo aos céus, tu aí estás. Se me deito na mansão dos mortos, aí te encontras” (Sl 138, 5.8).

2) O que o senhor considera como ponto de partida para a vocação marista?

É fundamental que haja o querer de Deus sobre o ser humano! A iniciativa é sempre do Criador, através de Jesus Cristo. É Ele quem nos chama, e sem esse chamado não há ponto de partida para a vocação. Para a vocação à Vida Consagrada Marista é necessário que haja uma relação profunda com Maria, e quase sempre essa devoção mariana tem como base a família.

É o caso da minha família, e, de maneira especial, da minha mãe, que sempre foi grande incentivadora da piedade mariana. No meu caso, de maneira bem significativa, a fraternidade está no fundamento da meu despertar vocacional. Foram atitudes fraternas que percebi entre os Irmãos, no contato com a primeira comunidade marista que conheci, que serviram como ponto de partida para a minha vocação à vida marista.

3) A experiência do senhor na Comunidade de Apipucos, em Recife (PE), lhe trouxe muitas certezas quanto à vocação? Quais Irmãos foram exemplo para o senhor?

A consciência de que fui, realmente, chamado por Deus à Vida Consagrada Marista foi crescendo, gradativamente, no decorrer dos 42 anos que estou celebrando, neste 2020, na congregação dos Irmãos Maristas. Naquela época, em 1978, eu estava com 22 anos, e apesar da maturidade cronológica, eu não tinha segurança nem consciência da dimensão vocacional e da responsabilidade que estava caindo sobre os meus ombros, como futuro Irmão Marista. Para mim, era mais uma aventura e uma atitude rebelde de quem não queria seguir as pegadas dos demais manos e manas, que optavam pela vida matrimonial. A minha experiência na Comunidade de Apipucos, em Recife (PE) não me trouxe nenhuma certeza, apenas alguns questionamentos e dúvidas, quanto à minha vocação. A única certeza que eu tinha era a de que não deveria abandonar o processo formativo, naquele momento, pois representaria um fracasso e uma vergonha para mim.

Muitos Irmãos foram exemplo para mim, naquele momento. Quero destacar apenas dois: o Irmão Onésimo Mário, que dedicava grande parte do seu tempo na companhia e cuidado com os Irmãos idosos e enfermos. Para mim, esse Irmão já era um santo em vida. Fui tocado, profundamente, pelas suas atitudes de respeito e cuidado com os coirmãos; e o Irmão Ambrósio Aguiar, exemplo de trabalho e oração. Certo dia o encontrei no cemitério, e perguntei sobre o que estava fazendo? Ele me disse: aqui estou fazendo três coisas ao mesmo tempo: estou trabalhando, na limpeza do cemitério, estou fazendo o meu exercício físico e, ao mesmo tempo, estou rezando.

4) Durante a sua trajetória marista, o senhor passou por colégios, obras sociais, casas de formação? Como todos estes trabalhos (diferentes) agregaram a sua vida pessoal e profissional?

Verdade! Logo após os dois anos de noviciado, estive inserido num grande colégio, onde pude fazer a experiência de dar aulas de ensino religioso para adolescentes e jovens: uma riqueza para a minha missão de educador; em seguida fui transferido para uma obra social, que foi mais um laboratório de aprendizagem para mim! Os 33 anos seguintes, da minha vida marista, estive a serviço do acompanhamento dos jovens em formação, a nível de Província e do Instituto marista.

Na Província, atuei como formador em todas as etapas, da formação inicial, desde o pré-postulado até o pós-noviciado. Só na etapa do noviciado estive quatro vezes, em diferentes períodos e locais. Fiz parte, também, de uma equipe internacional de formadores, com sede na Espanha, onde morei 3 anos. Foi acompanhando o processo formativo de jovens e Irmãos que pude aprofundar a minha própria formação e consolidar a minha vocação. Nessa longa trajetória, a serviço dos formandos, nas diferentes etapas da formação marista, quem mais ganhou fui eu mesmo, com todos os cursos feitos e experiências vividas!

5) Para finalizar, este ano o senhor assumiu a Comunidade Marista do Recife – Recanto Nazaré, como superior. Como é estar à frente desta comunidade? Quais as expectativas para este trabalho?

Para esta experiência, como animador da Comunidade Marista do Recanto Nazaré, onde estou há pouco mais de um mês, não tenho expectativas. Tenho sonhos e esperança! Sonho com a possibilidade de poder viver uma profunda experiência de fraternidade, mesmo com a consciência dos limites da idade e do caráter de cada Irmão, nessa fase da sua vida; desejo ser uma presença significativa na vida desses Irmãos, que foram meus formadores e partilharam o melhor de si para formar bons cristãos e bons cidadãos. Tenho a esperança de que não me faltarão as luzes do Espírito Santo e a companhia da Boa Mãe e de São Marcelino Champagnat nesta nobre missão que me foi confiada para estes próximos anos.

 

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