Foto: arquivo pessoal

                                         Muito trabalho; uma só Missão! 

 

1)  Ir. Carlos, como começou a sua trajetória Marista e como se deu (desenvolveu) a vocação para ser Irmão?

Eu vejo minha vocação de Irmão como consequência de vivências e projetos que foram me ajudando a amadurecer o discernimento vocacional. Neste sentido, não tem como desvincular minha vocação de experiências religiosas vividas na minha família, especificamente por parte de minha mãe, na minha paróquia São Vicente Ferrer e na Pastoral da Juventude (PJ) paroquial e diocesana.

Na minha adolescência e juventude, posso dizer que fui sendo moldado pelas experiências vivenciadas nesses espaços eclesiais. Desde esta época, sempre fui muito envolvido na Igreja como catequista, coordenador de grupos de jovens, articulando os grupos em âmbito paroquial, de forânico e diocesano.

Minha aproximação com os Irmãos se deu como aluno do Colégio Marista de São Vicente de Minas. Pelo fato de eu me destacar como liderança jovem no ensino médio, os Irmãos me convidaram, junto com mais dois Jovens, para uma primeira reunião, afim de fundar o Grupo Gamar (grupos de alunos Maristas). A partir daí, continuei participando de encontros regionais e provinciais do Gamar, e, posteriormente, do grupo vocacional, acompanhado pelos Irmãos Walter, Ivanor e Helder Pinto, que teve muita participação e influencia em minha vocação pela afinidade no trabalho com a PJ.

O que me chamou muita atenção, à época, era a forma como os Irmãos trabalhavam com os jovens e isso me deu o desejo de fazer parte dessa família. Após quatro anos de acompanhamento e muita convivência com os Irmãos, senti que era por esse caminho que Deus estava me chamando e decidi entrar para o Instituto em 2000.  De lá pra cá, são 17 anos de caminhada com muito aprendizado, partilhas de vida e experiencias fantásticas com muitos Irmãos, leigos e leigas, crianças, adolescentes e jovens por esse Brasil a fora.

2) Há mais de dez anos como Irmão, como foi ter passado por várias funções, como professor, agente e coordenador de Pastoral, orientador Educacional e diretor de unidade? Todos estes cargos fazem/fizeram parte do crescimento profissional, bem como do crescimento/evolução para servir como Irmão?

Eu sou muito grato a Deus e ao Instituto pelas oportunidades que me foram concedidas. Me sinto privilegiado, no sentido de que tive a chance de conhecer diversas obras e unidades que abrangem nossa missão. Durante minha formação, creio ter conseguido passar por quase todos as obras que tínhamos. Desde o CEMAC Semi-liberdade, Circuito Jovem, Lar Marista, Casas de Acolhida, Centros Maristas de Juventude (CMJ´s), colégios particulares e obras sociais.

Me recordo com muito carinho do CMJ de Montes Claros (MG), sobretudo do CMJ de Belo Horizonte (MG) e de Colatina (ES). Em ambos, eu tive a oportunidade de ser diretor. Esses centros foram grandes escolas de formação para muitos jovens Irmãos, pois as experiências de voluntariado e parcerias com os jovens assessores leigos e leigas do CMJ eram uma coisa muito bonita e foi algo pioneiro na Província.

Posteriormente, trabalhei como professor de música na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, professor de Ensino Religioso, Sociologia e coordenador de Pastoral. Essas experiências me deram base pedagógica para conhecer bem o funcionamento e a dinâmica de uma escola. Eu sou muito grato às pessoas que foram pacientes comigo e me ensinaram bastante. Com certeza, todos esses cargos/serviços me deram uma base muito boa para exercer a função que tenho hoje.

Acho que é bom ressaltar que, no aspecto sociológico, os cargos são importantes para nossa realização humana e profissional, isso faz parte da nossa vida. Todavia, no aspecto religioso, minha vocação primeira é ser Irmão, ou seja, essas funções são assessórios como possibilidade de servir ao Reino, ao Instituto e à igreja. No caso de nós, Irmãos, as funções são serviços e não devem ser nossa primeira opção. Vale lembrar que hoje estou diretor e animador de comunidade; amanhã, outro Irmão que mora comigo, pode assumir a mesma função e eu seguirei em outra frente de missão.

3) Além das atuações já descritas acima, o senhor está à frente do Comitê de Proteção Integral às Crianças e aos Adolescentes, da Província Marista Brasil Centro-Norte. Nos conte como é atuar em uma área tão importante e relevante para a Província, que remonta desde ao Pe. Marcelino Champagnat, que descobriu a vocação quando do encontro com o jovem Montagne. O que isso representa para o senhor?

De fato, desde que fui convidado a esse serviço não pestanejei, aceitei de pronto. Sempre trouxe muito forte comigo, a bandeira dos Direitos Humanos, justiça social, e isso casou muito bem com a minha opção, porque militar em prol da defesa dos direitos de crianças e adolescentes está no DNA marista desde a sua fundação. Atuar no Comitê de Proteção é gratificante por saber que estamos em uma frente de trabalho que foi pensada pelo Conselho Geral para garantir direitos e criar espaços seguros em nossas unidades educacionais, mantendo nossos educandos a salvos de quaisquer formas de violação.

Esse é um trabalho nobre e de multa responsabilidade. Nosso trabalho é canônico, de confiança do superior-geral , e do Irmão provincial, que delegou a minha pessoa como coordenador e à toda equipe do Comitê de Proteção essa missão. Nosso trabalho é minucioso e específico, exige conhecimento da rede de proteção, dos sistemas de garantias de direitos, da legislação infanto-juvenil e requer muito amor à causa.  O trabalho do Comitê envolve vidas de nossos alunos, suas famílias, colaboradores e associados e empresas terceirizadas.

Me sinto feliz por poder colaborar com essa frente de missão que representa muito para a nossa Província, porque, além da proteção ás crianças e aos adolescentes, a política institucional oferece segurança jurídica, respalda nosso trabalho junto à sociedade e outras instituições.

4) Sabemos que a vida de Irmão os colocam em vários locais diferentes de trabalho e atuações. Belo Horizonte (MG), Colatina (ES), Aracati (CE) e Salvador (BA) foram alguns dos locais em que o senhor atuou, em diversas funções. Ser Irmão é estar a serviço da Instituição, independentemente do local e da função? Nos fale um pouco sobre isso…

Exatamente isso, antes da função, nossa vocação de Irmão é para servir onde formos enviados, independente da função. Eu gosto muito do artigo 17, de nossas constituições, que diz o seguinte: “Consagrados, vamos aos outros, especialmente aos jovens, a fim de revelar-lhes Jesus Cristo. A ação apostólica pertence à própria natureza de nossa família religiosa. Fiéis ao Padre Champagnat, como nossos primeiros Irmãos, devotamo-nos inteiramente à tarefa que a obediência nos confia, de acordo com a finalidade do Instituto e em comunhão com a Igreja”. Nessa perspectiva, somos enviados pelo Instituto, a vários lugares, abertos para exercer nosso apostolado, dentro do carisma, sejam eles trabalhos caseiros, braçais, funções administrativas, pedagógicas e de direção. Nossa consagração por meio dos conselhos evangélicos é ser Irmão entre os Irmãos.

5) Atualmente, o senhor é diretor da unidade Marista Patamares, de Salvador (BA), operacionalizando na prática o fundamento principal do Instituto: educar por meio da evangelização e evangelizar por meio da educação. O que isso significa para o senhor? Quais resultados o senhor espera desta atuação?

Evangelizar por meio da Educação é colaborar com o projeto de Deus e com a transformação do mundo. A escola católica, por sua natureza sensível aos valores humanos, éticos e religiosos, tem uma grande contribuição a dar para a educação no Brasil. Para mim, quando se fala em educação evangelizadora, é pensar uma educação que prepare o educando para a vida com todas as suas exigências e potencialidades. Isso significa que a educação não deve falar só de coisas técnicas; significa não reduzir o ato de educar ao de instruir; significa não se preocupar só com as questões materiais e com o sucesso neste mundo, mas com as atitudes éticas e responsáveis. É também falar de valores morais, de cidadania, da importância do bem, da paz e da justiça! Como resultado de nossa ação, me vem a célebre frase que a Instituição Marista traz desde sua origem, que nossa educação é para “formar bons cristãos e virtuosos cidadãos“.

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