Samuel com a comunidade escolar da Escola – Foto: arquivo pessoal

Marista: um mundo de possibilidades

Sou Samuel Germano, coordenador de pastoral, na Escola Marista Sagrado Coração, em Fortaleza (CE). Sou casado com uma companheira incrível que se chama Taís. Tenho 28 anos de idade e sou natural de Aracati, uma pequena cidade do litoral cearense, terra de belas praias e gente muito afetuosa.

Minha história com o Marista começa bem cedo, quando tive a oportunidade de estudar no Colégio Marista de Aracati. Desde o famigerado jardim 1, até o terceiro ano do ensino médio, pude cantar ao fim dos intervalos que “sou marista de coração”. Então, foi nesta experiência educativa e evangelizadora, durante 14 anos, que pude me desenvolver como ser humano pleno de potencialidades.

A aula de música, a reflexão filosófica, as celebrações eucarísticas, as caminhadas pela cidade, os “Maristões”, as feiras de ciência, entre tantas outras experiências, tudo sempre parecia ser temperado de afeto e carregado de um sentido mais profundo, que nos despertava para algo maior, para as nossas potencialidades. É claro que, só depois de um tempo, como ex-aluno (sim, mas nunca ex-marista), que consegui perceber tudo isso. Como estudante só pensava em como era legal participar de tantas atividades diferentes, “legais”, conduzidas por educadores acolhedores e que pareciam se importar de verdade conosco.

Fora dali, é que a ficha caiu. Já no Movimento Estudantil, da Universidade Estadual do Ceará, fui me aprofundando nos questionamentos acerca das políticas públicas, sobretudo da política de educação brasileira. Nesse contexto, é que percebi os privilégios de minha formação básica e como tudo aquilo me proporcionou um acesso ao mundo de modo diferente. Não só por poder me desenvolver em plenitude, mas, principalmente, por me importar com a realidade, afinal, todos na universidade poderiam ter um olhar de crítica sobre a questão social, contudo nem todos o faziam. Por quê? Assim notei que a principal formação que havia recebido no Marista era a de despertar para um mundo de possibilidades para todos e não para alguns.

Legado Familiar

Importa salientar que tive boas referências em minha família. Meu pai e minha mãe eram leigos – militantes que sempre me deram testemunho de ética e compromisso, de evangelho vivo. A “opção pelos pobres” não vinha como catequese, por assim dizer, mas da convivência diária nas diferentes realidades percorridas junto com eles. Esta experiência, sem dúvida, é parte fundante de meu processo vocacional, que se forma como aluno Marista (pois passava a maior parte dos meus dias na escola) e amadurece como estudante de Serviço Social.

Essa combinação de elementos, que aqui tento simplificar, engendrou em mim um forte desejo de construir um projeto de vida que fosse pleno de realização profissional, mas que visasse também à realização vocacional. Queria viver um caminho intenso de felicidade, mas não o queria sozinho, muito menos o queria só para mim. A experiência no movimento popular me mostrou um caminho de possibilidades para ampliação de direitos sociais. Aprendi sobre análise de conjuntura, estratégia política, mobilização popular, trabalho de base, organização de pautas e de atos. No entanto, a mística que permeava este processo não me alimentava como sentia que era necessário.

Projeto de Vida: pessoal e profissional

A busca por preencher este “espaço” me trouxe de volta ao Marista em 2013, para trabalhar como agente de pastoral, na Escola Marista Sagrado Coração, em Fortaleza (CE). O retorno como educador despertou para as peças do quebra-cabeça da vida que estavam se encaixando: formação familiar, educativa e profissional que me impulsionavam para mais uma periferia urbana, para desenvolver junto à juventude um processo de educação e de evangelização.

O reencontro com os ensinamentos de Champagnat, sua vida e obra, e com a pedagogia Marista, deu mais significado à toda a história que eu recordava de meu tempo de aluno. Encontrei-me no jovem Montagne, reconheci meus momentos perdidos na neve, entendi o sentido da presença na pedagogia Marista, encantei-me em perceber que a minha relação com a Boa Mãe, construída de tão pequeno, remontava à relação de Champagnat com Maria. Nesse período de “adaptação”, a nova relação com o instituto foi bastante interessante e muito significativa para entender o meu projeto de vida.

Na relação com as crianças e jovens, com as famílias e com os educadores, ser comunidade passou a fazer mais sentido no projeto de transformação social, onde o transcender é caminho e caminhada, para animar o povo rumo à superação dos desafios. O rosto de Deus ficou mais jovem, mais alegre, mais intenso e mais próximo. O amadurecimento na fé, que percebo na comunidade, me sinaliza para uma experiência sagrada e cheia de Deus, que cresce em mim e no outro.

De certo, muitas referências pelo caminho me ajudaram a chegar até aqui. Entre elas, estão companheiras do movimento estudantil, que me mostraram o valor do companheirismo e da entrega (Guará, Duda, Inaê, Lohana);  padres redentoristas, que me ensinaram sobre a necessidade de trabalhar com as juventudes (Pedro, Tiago e Eridian); irmãos Maristas – e irmãos em formação, que foram testemunho do sonho de Champangat em minhas experiências Montagne (Ir. Aguiar, Ir. Luizinho, Ir. Getúlio, Ir. Airton, Ir. Bento, Ir. Joilson e Ir. Jéfferson); educadores e leigos que estão a serviço da missão de tornar Jesus conhecido e amado, a partir da vivência diária (meus pais, tia Maurinha, tia Lúcia, Nayra, Daluz, Aldeiza, Dona Chiquinha, Dona Eliza).

Muitos sujeitos, muitas histórias, um só caminho, que me ajudaram a entender o meu papel de educador e de evangelizador na construção de um Reino que não é deste plano, que se constrói com amor, fraternidade, alegria e comunhão.

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Samuel Germano

Coordenador de Pastoral – Escola Marista Sagrado Coração (Fortaleza / CE)

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