Foto: arquivo pessoal

Recentemente me apresentei num curso Ead e vou aqui me parafrasear: Olá, sou Lissandra. Sou educadora, por opção consciente: o processo de constituição dos sujeitos me encanta e a possibilidade de contribuir com a construção do mundo me desafia, desde minha infância. Faço parte da família marista há certo tempo e hoje atuo como gestora de uma unidade socioeducativa na cidade de Varginha, sul de Minas Gerais.

Também sou esposa, mãe, filha, neta, madrinha, tia, cunhada, amiga, mulher… sou várias de eu mesma. Intensa. E assim, como a Clarice Lispector, “às vezes tenho vontade de ser menos intensa só para poder entender como o resto do mundo aguenta essas coisas que me devoram permanentemente e de uma forma tão absurda”.

Venho de uma cidade pequena e este fato me constitui. Gosto muito da vida simples da minha cidade: chinelos nos pés, conversar com os amigos (o cuidado com cada pessoa que conhecemos, o bom dia, boa tarde, boa noite, como vai?, a presença em situações difíceis, as alegrias partilhadas), o encontro cotidiano com a família, andar de bicicleta, sentar à sombra da mangueira, dar banhos nos cachorros, assoviar para os cavalos, sentar na praça no fim de tarde, ver o pôr do sol na janela da cozinha, escutar os pássaros nas árvores e acordar com música da igreja chamando para missa.

Projeto Florescer – onde tudo começou

Cheguei ao Marista, por um processo seletivo, para a coordenação do “Projeto Florescer” – o processo foi conduzido pelo professor Antônio Carlos, Toninho para muitos. Professor Antônio Carlos me apresentou o Instituto, cada virtude, princípio, sua organização à época, as províncias, as mantenedoras, o cuidado com o processo educativo-evangelizador, a qualificação do nosso fazer. Ao explicar a virtude da simplicidade: “sem pregas, sem dobras, sinônimo de autenticidade, onde somos testemunhas do que falamos”… crescia, a cada momento, minha identificação e encantamento. Assim como o professor, outras pessoas foram significativas e constituem meu presépio marista, num processo de mútuo aprendizado.

Minha identificação com a Instituição seguiu com a atuação no Projeto Florescer, que cresceu e se transformou no Centro Marista Florescer, um centro social marista que atendia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. O Florescer apresentava aos educandos diferentes opções educativas, artísticas, culturais, esportivas, de lazer e de formação humana, construindo um espaço que, rapidamente se tornou um centro de convivência. O foco do trabalho estava na ampliação do universo de conhecimentos, o apoio e orientação às famílias, por meio da oferta de ações socioeducativas e programas de geração de emprego e renda e, por fim, um estreito contato com a comunidade no entorno, em especial com a Instituição Escolar.

Neste caminhar, representei a Instituição Marista no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e no então, Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), de Varginha. Também atuei junto ao grupo do município militante na Economia Solidária (ECOSOL). Instâncias de luta e garantia de direitos de todos e todas.

Quanta alegria por fazer parte desta história. Quanto aprendizado! Atuava na coordenação da unidade e renovávamos, cotidianamente, o compromisso com a proteção, promoção, defesa e garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens, principalmente os menos favorecidos socioeconomicamente – os prediletos de Champagnat.

Em 2011, o Instituto Marista implantou aqui em Varginha, uma escola mantida com recursos da filantropia, com o compromisso de devolver à sociedade um trabalho na perspectiva da educação formal – área de atuação preponderante da Instituição, a Escola Marista Champagnat de Varginha. Nesta unidade socioeducativa, todos os estudantes possuem bolsas de estudo em regime de total gratuidade.  Nossos educandos são selecionados por meio de um processo seletivo de Bolsas de Estudo, em consonância com os critérios estabelecidos pelo MEC e avaliação socioeconômica realizada pelo profissional do Serviço Social, validada pela Comissão de Bolsas.

Transformando vidas

Atualmente, estou na gestão da Escola Marista Champagnat de Varginha e, mais uma vez, me identifico com uma escola que opta por uma educação na perspectiva da transformação social e da integralidade do ser; e se preocupa, constantemente, com os atuais desafios planetários e com a oferta de uma educação de qualidade – peça chave para a ampliação e a garantia dos demais direitos humanos e sociais.

Buscamos, através da educação, romper o individualismo e o bem-estar particular, em prol de uma realidade que promova o cuidado. Uma educação como forma de comprometimento e de responsabilidade para consigo e para com os outros. Faço parte de uma equipe que faz a diferença – que se orienta sob a perspectiva do trabalho colaborativo, que incentiva o pensamento crítico, investindo na redução das hostilidades e elegendo o diálogo como estratégia fundamental de trabalho.

Em síntese, venho atuando na face social da instituição marista, que nasceu com a esperança de nosso fundador em modificar a realidade em que vivia e tenho profunda gratidão por perpetuar este sonho. Em que outro contexto, senão neste, onde há esperança de que novas realidades possam ser construídas, faz-se necessário o educador?

Outro dia, encontrei uma amiga. Ela me trazia um presente, um livro e em sua dedicatória dizia: “Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e assim, descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam” (Paulo Freire) … é onde estaremos sempre unidas, na luta! Pelos esfarrapados! E assim, cada vez mais, segue minha identificação com a missão marista.

Lissandra Chiste

Diretora – Escola Marista Champagnat de Varginha (MG)

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