Segui o que o meu coração pedia!
O Ir. Márcio Henrique da Costa, natural de Aracoiaba (CE), é o atual diretor do Setor de Vida Consagrada e Laicato (SVCL), da Província Marista Brasil Centro-Norte. Mas, até chegar aqui, caminhou por um longo caminho, que começou com o contato com o Ir. Urbano Gonzalez, de quem ganhava biscoitos, e, por consequência, era catequisado, até ser o coordenador da Animação Vocacional, trabalho este que se finda em dezembro de 2018.
Filho de Francisco Bento da Costa e de Maria Neide Ferreira da Costa, o mais velho da prole de três irmãos saiu de Aracoiaba aos três anos, e passou a infância, adolescência e juventude na capital cearense, Fortaleza. Lá, trabalhava com seus pais em um comércio na praia, onde conheceu o Ir. Urbano, que ainda utilizava batina preta e chegava sempre com os bolsos cheios de biscoitos, distribuindo-os para a criançada. Foi o primeiro Irmão Marista que ele conheceu, e, junto de outros Irmãos que marcaram este período, iniciou sua vida de participação eclesial na catequese, nos grupos de jovens e no grupo vocacional.
Com a proximidade dos Irmãos junto à família, dona Maria Neide foi contratada para trabalhar na residência deles, no Colégio Marista Cearense, e, com isso, Ir. Márcio passou a ser aluno Marista, o que o motivou a buscar o Grupo de Opção de Vida (GOP) – grupo vocacional, à época, do Marista.
A partir de então, o Ir. Márcio Henrique definiu a sua vocação e manifestou aos Irmãos o desejo de aprofundar o acompanhamento vocacional. Começou então um processo de discernimento profundo, com a ajuda do Ir. José Santana, que o ajudou a seguir o que seu coração lhe pedia. Foi então o primeiro passo para frequentar a Casa de Formação, em Montes Claros (DF), e, em seguida, o Postulado, em Vila Velha (ES). E, foi no noviciado, que o Ir. Márcio “rezou” a tão sonhada opção de vida, de ser Irmão Marista.
Conheça um pouco da história deste Irmão, que, desde sempre, cultivou sua vocação, e seguiu o seu coração na busca de perpetuar os valores preconizados por São Marcelino Champagnat.
1) Ir. Márcio, a sua aproximação junto aos Irmãos Maristas se deu mais efetivamente, quando o senhor passou a ser aluno do Colégio Marista Cearense. Quando se deu este fato, e quais foram as situações marcantes desta fase de estudos no Colégio?
Estudar no Colégio Marista Cearense foi um sonho realizado, para mim e para meus pais. Pois o Colégio era tradicionalmente conhecido em Fortaleza e todos que estudavam lá tinham grandes oportunidades na vida. Considero que minha grande oportunidade foi conhecer Champagnat e seu carisma, ao visitar a comunidade dos Irmãos; me encantava muito o modo como eles viviam, na fraternidade, na oração e na missão por dentro daquele grande Colégio. Este foi o meu despertar vocacional, pois ali, entre os Irmãos, tinha enorme desejo no coração de conhecer melhor a vida marista.
2) Depois de sua inserção pastoral, o senhor fundou projetos voltados para as crianças e adolescentes, como o Projeto Irmão Lourenço e, em seguida, a Casa de Acolhida Marista, que existe até hoje. Nos fale um pouco destes projetos: como eles funcionavam e quais objetivos tinham.
Minha experiência de pastoral começou ao lado dos Irmãos maristas. Lembro, com muito carinho, do Irmão Aguiar, que enxergou em minha pessoa uma liderança e muito me motivou a seguir evangelizando crianças e jovens. Um dia, no auge da minha juventude, Irmão Aguiar me propôs criar um grupo de crianças e adolescentes chamado Irmão Lourenço, para acolher as crianças da região onde eu morava. Eu, empolgado e muito feliz com a proposta, aceitei o desafio e dessa forma fundamos o grupo que durou cerca de três anos. Nos encontrávamos todos os finais de semana, as atividades realizadas eram diversas, tais como: leituras, catequese, atividades esportivas e culturais.
Após este tempo, foi aprovado pelos Irmãos a fundação da Casa de Acolhida Marista, em Abreulândia (CE). Espaço significativo de acolhida, cuidado e atenção a todas aquelas crianças que estavam no projeto Irmão Lourenço. Foi um tempo especial em minha vida. Considero que este marco foi importante para firmar em meu coração a paixão pelas crianças, adolescentes e jovens. E sobretudo, firmar que essa missão deveria ser vivida como Irmão Marista.
3) Estes projetos, de certa forma, lhe aproximaram ainda mais dos Irmãos Maristas. Quando aconteceu o desejo de entrar para a Casa de Formação? E como foram os primeiros anos na Casa de Formação, em Montes Claros (MG)?
O desejo de ingressar na formação marista foi confirmado logo depois que sai do Colégio Marista Cearense. Eu, naquele tempo, não enxergava outra possibilidade vocacional a não ser a vocação marista que me encantava e me desafiava a dar passos. Essa inquietação foi compartilhada com os Irmãos que me acompanhavam na época, e, desde então, foi sinalizado ao Irmão Vitor Pravato, coordenador provincial, na Animação Vocacional, da recém-criada Província Marista Brasil Centro-Norte.
O Ir. Vitor esteve em Fortaleza (CE) e me propôs fazer esta grande viagem de ônibus para entrar na Casa de Formação, em Montes Claros (MG). No dia em que entrei naquele ônibus, senti grande divisão no coração, pois o sentimento de dor estava forte por deixar a família e os sentimentos de alegria, ansiedade, curiosidade estavam também pulsando, pois havia chegado o momento de seguir meu sonho.
A chegada na Casa de Formação foi um tempo especial. Em Montes Claros, vivi uma profunda experiência, tive formadores que me ajudaram a dar passos profundos no amadurecimento humano, cristão, religioso, fraterno, missionário. Lá pude sentir o que era ser um Irmão marista e só confirmou o que eu tanto desejava; foi um tempo significativo para compreender que era necessário seguir em frente e continuar dando passos em minha busca.
4) Depois do período na Casa de Formação, houve a passagem pelo Postulado e pelo noviciado, em que o senhor afirma ter sido o momento em que afirmou a tão sonhada opção de ser Irmão Marista. Como foram estes dois períodos? O que representaram para o senhor?
Considero que o Postulantado foi um ano marcante em que decidi minha vocação com mais intensidade, pois os formadores me ajudaram a conhecer a amplitude da vocação marista. Foi um tempo de experimentar as grandes crises emocionais, os conflitos familiares, as dúvidas, mas, também, de viver grandes experiências de inserção eclesial, estudos, vida comunitária. Com isso, considero que, diante da fragilidade e da força que estava dentro do meu coração, pude dar novos passos e seguir para o noviciado.
O tempo de noviciado é um período singular na vida de um religioso. Entrei nesta etapa de formação com esta convicção de que deveria vivê-la com muita intensidade. Estudar as constituições, entender canonicamente o que é a vida religiosa marista me ajudou a tomar consciência das grandes responsabilidades que estavam por vir. Foi um tempo de muitos questionamentos, de confrontar inclusive com Deus, se era isso que Ele realmente desejava de mim. Lembro da inspiração do profeta Jeremias, que dizia “seduziste-me Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20, 7).
O tempo do noviciado, em resumo, é justamente este movimento em que eu entendi os planos de Deus em minha vida. Firmar este compromisso por meio dos votos religiosos, me ajudaram a fazer este caminho de entrega e doação da própria vida à vocação marista.
5) Com um início tão precoce na vida religiosa, e, desde muito jovem, já certo do que queria, como avalia a sua trajetória como Irmão Marista? Como foi efetivar os votos perpétuos, e se tornar um “seguidor” de São Marcelino Champagnat?
Entendo que Deus nos modela, nos prepara, nos consagra e conhece o nosso potencial para viver uma missão. Acredito que desde o primeiro momento, em que Ele me chamou à vida, eu já estava pré-destinado a este caminho. E mesmo que por vezes apareçam desafios, crises e desestímulos, Deus sempre nos ampara e cuida do que o coração vive e sente.
Como Irmão, considero que alcancei o meu sonho de adolescente, jovem; agora, neste momento, sinto que é necessário viver aquilo que eu sonhava. E tenho feito isso no meu dia a dia. Ser um Irmão Marista é compreender o sentido de ser seguidor de Jesus nos passos de Champagnat, é lutar pelo direito das crianças, adolescentes e jovens, é viver com seriedade e responsabilidade a vida religiosa, é assumir a vida comunitária, e ser um homem de oração que faça a diferença pela humildade, simplicidade e modéstia.