Ir. Alexandre Lôbo (Foto: Cristiano Giamarco)

Ir. Alexandre Lôbo (Foto: Cristiano Giamarco)

 

Um coração inquieto, insatisfeito, mas humano“, Ir. Alexandre Lôbo

Filho de uma família tipicamente tradicional, Ir. Alexandre Lôbo é o caçula de dois irmãos, e foi uma criança inquieta, faladeira e curiosa, que logo cedo aprendeu a relacionar-se com muitas pessoas, especialmente, as mais velhas. A curiosidade e a inquietação foram características que geraram expectativas fomentadoras de vitórias, alegrias e decepções, mas que, segundo Ir. Alexandre “foi neste movimento que fui talhando minhas opções e compreendendo a mim mesmo no desenvolver das inter-relações”.

Desde criança, fora inquieto. Se inquietava vendo os pobres nas ruas e, também, as brincadeiras de mau gosto entre os colegas. E tudo isso fazia dele um sonhador, com desejo de viver algo diferente. “Um dos meus maiores sonhos de criança era ter uma grande fazenda como a de meu avô, para abrigar e colocar todos os pobres e, assim, resolver os problemas do mundo”, declarou.

A adolescência chegou, e ele pôde realizar algumas ações para tornar o mundo melhor. Acolheu crianças de rua, incluiu crianças do lixão em escolas públicas e ajudou a reconstruir casas caídas. Nos grupos de Renovação Carismática, percebeu, na oração, a presença de Deus junto aos pobres.

Nesta época, ele já estudava no Colégio Marista João Pessoa, e os Irmãos Maristas começaram a parecer mais próximos e uma possibilidade de vida. Começou a descobrir que ser Irmão era uma forma de servir a Deus, e anunciou aos familiares e aos Irmãos que queria fazer parte da Congregação. Aos 15 anos, se despediu da família, que o apoiou em sua decisão, e partiu para o convento. “Os primeiros anos na Congregação foram muito felizes, mesmo com os diversos desafios de convívio, estilo de vida e adaptação”, lembrou Ir. Alexandre.

Passaram-se alguns anos e, entre uma inquietação e outra, e algumas crises existenciais, Ir. Alexandre se desligou da Congregação. Foram 10 anos longe da instituição, mas que, segundo ele, foram fundamentais para se autoconhecer e enfrentar os medos e angústias pessoais.

Depois deste tempo de “vida leiga”, nos traçados e caminhos de Deus, ele voltou para a Congregação. Atualmente, Ir. Alexandre é diretor da Escola Marista Champagnat de Teresina (PI) e, acredita que, além de responder à vocação religiosa, também se identifica com o carisma marial e apostólico, herdado de São Marcelino Champagnat.

Para conhecer um pouco mais deste Irmão, inquieto e insatisfeito, porém humano – como ele mesmo se intitula -, acompanhe a entrevista abaixo:

1 – Como foi a iniciação do senhor na vida religiosa?

Desde criança, ao pé da cama, minha mãe nos colocava para fazer nossas orações e agradecer o dia. Na Igreja, fiz a caminhada sacramental igual a maioria das pessoas; levado pela família e pela escola, descobri os valores religiosos e, sobretudo, a encantadora pessoa de Jesus Cristo e da Virgem Maria, sua Mãe. Mas foi na puberdade, ao aceitar o convite para participar do Grupo de Oração, que eu percebi a possibilidade que ser Igreja era se sentir parte da comunidade cristã e a ela se dedicar.

2 – Aos 15 anos, o senhor já tinha tomado a decisão de ir apara o convento, pois queria se tornar um Irmão Marista. Como foi o processo de decisão? O que o levou a tomar esta decisão com tão pouca idade?

O coração inquieto, insatisfeito sempre me acompanhou, do mesmo modo o desejo de querer fazer algo de bom para as pessoas. Com a participação no Grupo de Jovens da escola marista e no Grupo de Oração da minha comunidade, descobri que meu coração poderia encontrar lugar em um espaço dentro da Igreja – foi ai que percebi que ser Irmão Marista seria a opção.

Ao revelar este desejo, por acaso, aos Irmãos, fui muito acolhido e logo encaminhado para as leituras do Padre Champagnat e aos Encontros Vocacionais. Foi empolgante para mim, naquela época, viver tudo isso e coloquei todas as minhas energias para este objetivo. Inclusive, para a minha festa de 15 anos, pedi a todos, de presente, artigos e peças que ajudassem no meu enxoval para entrar no aspirantado marista – o Juvenato.

3 – Como foram os primeiros anos na Congregação? E durou até quando? Quais foram os desafios, descobertas, convivência com os Irmãos?

Eu tive duas épocas de primeiros anos. A primeira como adolescente, aos 15 anos, em que vivi as aprendizagens de ser de Deus (consagrado) e os desafios da adolescência. Esta experiência foi vibrante e muito me ajudou a ser o homem que sou hoje.

Fiz dois anos de Juvenato (1982 e 1983), um ano de Postulantado (1984) e dois anos de Noviciado (1985 e 1986). O primeiro ano de jovem irmão foi no Colégio Conceição Apipucos, em Recife (PE), e o segundo em Lagoa Seca, no estado da Paraíba. Em 1999, tive a emoção e a alegria de morar no lugar em que sempre sonhei como Irmão – Juvenópolis, um abrigo de meninos em Maceió.

Acredito que o convívio comunitário é importante para nos sentirmos inteiros enquanto consagrados, por esta razão, penso que este é um espaço que deve ser conquistado diariamente, em que se faz necessário, todos os dias, fazer algo gratuito e afetivo pelo outro, e, mesmo sem esperar, a gente recebe de volta algo de bom também. Assim percebo a vida comunitária: motivados pelo amor de Deus, doamos todos os dias um pouco ao outro e, pela graça, vivemos a partilha de dons.

4 – O senhor, a certa época, se desligou da Congregação. Como se deu isso? O que o senhor considerou, à época, para tomar esta decisão? E como foi voltar para a Congregação, depois de 10 anos?

Hoje, revendo os fatos, faço a leitura que minhas crises existenciais e as necessidades pessoais se tornaram maiores que a resposta de ser de Deus no Instituto Marista e, neste momento, a decisão foi enfrentar meus medos e anseios sozinho para não macular a instituição com minhas ações e atitudes. Ter vivido 10 anos fora e, sobretudo, ter dado a chance de me reconhecer como pessoa, profissional e seguidor de Jesus Cristo me ajudou a reencontrar meu chamado de maneira mais profunda e coerente.

5 – Hoje, o senhor é diretor da Escola Marista Champagnat de Teresina. O que representa este trabalho e esta vida voltada para Deus? 

A experiência em Teresina é como a experiência que tive em Juvenópolis e no Aprendizado Marista Padre Lancísio (Silvânia/GO), que considero como dádivas de Deus. Nestes espaços, pude e posso embeber-me de valores e experiências que me impulsionam ao transcendente, a partir das pessoas, dos lugares e dos testemunhos de quem, no pouco, revela a grandeza do amor de Deus.

Quando escuto a expressão “vida voltada para Deus”, logo me vem a sensação do privilégio de viver o que é mais importante na vida: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada”, Lucas 10:41,42.

*Com informações do livro Simplesmente Irmãos – a História Vocacional dos Irmãos Maristas

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