Foto: arquivo pessoal

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Marcelino vive hoje nos que acreditam na juventude”, Ir. Joilson Toledo

Filho de “seu Toledo” e “dona Jurema”, Irmão Joilson nasceu no município carioca de Duque de Caxias, em 11 de agosto de 1977. Desde cedo, seus pais lhe ensinaram a alegria das pequenas coisas, a importância do estudo e das atitudes de gratidão e compromisso.

Desde “menino”, foi incentivado a participar dos grupos de catequese, e aos 13 anos era parte da turma de catequese, na Comunidade São Francisco de Assis. Meses depois, por ocasião da Campanha da Fraternidade de 1992, cujo lema era “Juventude, caminho aberto”, o grupo de jovens da Comunidade marcou uma missa em louvor à juventude. Ir. Joilson ficou tão encantado em ver aqueles jovens celebrando que, em março, deste mesmo ano, fundou o Grupo Jovem Liberdade, o que considerou um marco em sua vida. A partir daí, teve os primeiros contatos com a Pastoral da Juventude (PJ) da região pastoral de São João de Meriti (RJ), da diocese, com a caminhada das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), dos movimentos populares. E não saiu mais deste mundo “juvenil”.

De 1992 a 1996, foi coordenador da PJ, da diocese, e membro de coordenação paroquial, regional e diocesana. É neste contexto que o Ir. Joilson “encontrou” os primeiros Irmãos Maristas, e viu o desejo de ser Irmão motivado pela vontade de ser na vida de outros jovens o que “aqueles Irmãos” foram em sua vida: companheiros de caminho. Então, em 2006, no Rio de Janeiro, fez os primeiros votos para a irmandade Marista – e, recentemente, em 2014, fez os votos perpétuos. Por sempre trabalhar com jovens, durante toda a caminhada, foi convidado para ser formador, prestando um serviço aos jovens que estão nas comunidades de periferia, e também àqueles que desejam ser Irmãos. Para o Ir. Joilson, os jovens têm o direito de saber e experienciar o quanto Deus os ama. “Por experiência própria, digo que é possível ser feliz fazendo a vida, a todo instante, sinal deste amor”, declarou.

Atualmente, Irmão Joilson é formador do pré-postulado na Comunidade Marista Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha (ES).

Para conhecer um pouco mais da trajetória deste Irmão que “abre os braços aos jovens”, leia a entrevista abaixo:

1 – Sua trajetória entre a juventude iniciou-se com a formação de um grupo de jovens na sua cidade e, posteriormente, o ingresso na Pastoral da Juventude (PJ). O que essa história significou para a sua formação pessoal e religiosa?

A entrada no grupo de jovens foi um marco na minha vida. As principais opções de toda a minha vida são marcadas por esta etapa. A partir deste passo, pude conhecer e participar da Pastoral da Juventude (PJ), das Comunidades Eclesiais de Base (CEB`s) e tantos outros grupos e articulações, de dentro e fora da Igreja, ligados ao compromisso com os empobrecidos. Assim, fui crescendo na convicção de que o seguimento de Jesus se dá na vivência comunitária e no engajamento em processos de transformação social e eclesial. Foi o início de uma caminhada integrada e integradora, na qual fé e vida; seguimento de Jesus e compromisso político; participação eclesial e transformação social; vida pessoal e vida comunitária caminham juntos, um alimentando ou questionando o outro. Para mim, significou entender que – a causa de Jesus: a construção do Reino de Deus – dá sentido para uma vida. Fui pouco a pouco aprendendo que Deus tem um sonho para humanidade, e que eu tenho um lugar neste sonho: dedicar a vida aos jovens empobrecidos, em especial aqueles que desejam seguir Jesus.

2 – Conte-nos um pouco sobre sua descoberta e discernimento vocacional.  Como sentiu o chamado para ser Irmão Marista?

Meu primeiro contato com os Irmãos Maristas foi na caminhada da PJ da diocese. O jeito como os Irmãos nos acolhiam, como “perdiam tempo” com a gente, para nós, era encantador. Em minha diocese de origem, Duque de Caxias e São João de Meriti (RJ), os Irmãos não tinham colégio, trabalhavam numa obra social da diocese. Contudo, a maior “obra” marista era estar com jovens da PJ, abrir a casa para a gente, nos ajudar a entender quem nós éramos e o que nós somos chamados a ser. Aqueles homens tinham escolhido morar na Baixada Fluminense, lugar formado historicamente por pessoas que, em sua maioria, não podiam escolher.

A beleza e o significado espiritual de opções, como esta, foi minha primeira lição sobre a vida religiosa entre os empobrecidos: “estar onde os outros não vão”. Tudo isso me encantou e até hoje encanta. Senti o desejo de poder ser na vida de outros jovens o que aqueles homens foram na minha: um companheiro no seguimento de Jesus. Entrei no processo formativo logo que terminei o ensino médio. Fiquei dois anos. Achei que “isso não era pra mim”. Os apelos vocacionais continuaram fortes e seis anos depois voltei. Desisti de “brigar com Deus”. Ele me chama a ser Dele… um sinal do amor que Ele tem pelos jovens empobrecidos.

3 – Como é o trabalho de formador? Quais os desafios da formação para jovens que escolhem a vida religiosa como opção de vida?

A formação inicial é a porta de entrada na congregação. O Instituto e a Província têm uma proposta. O trabalho do formador é possibilitar aos jovens, a partir da vivência, aprofundar o chamado de Deus em sua vida. O processo formativo é um caminho de “conhecer-se, aceitar-se, superar-se e converter-se ao Evangelho”, assim como na narrativa bíblica de Samuel, que aprendeu a reconhecer o que Deus estava dizendo (1Sm 3,1-10). É trabalho do formador apresentar a memória viva da congregação, e possibilitar ao jovem, através do dia a dia, discernir se este é o caminho de felicidade para o qual Deus o chama. Então o formador dá aula, limpa a casa junto, reza junto, convive, faz atividades pastorais junto. É um companheiro de caminho.

Escolher a vida religiosa e optar pelo Evangelho, colocar o Evangelho como centro da vida, como força de unificação interior e base para as escolhas é um primeiro desafio. Crescer na paixão por Jesus ao ponto d´Ele tornar-se a referência de todas as dimensões da minha vida. A vida religiosa consiste em ser, nos espaços em que estamos, um sinal do quanto Deus ama, no nosso caso de maristas, o quanto Deus ama as crianças e jovens. Um jovem que escolhe a vida religiosa deve desenvolver um coração generoso, capaz de amar aqueles que Deus põe na sua frente, disposto a construir relações que não se fundamentam no poder e no prestigio, mas no grande amar de Deus. Assim, o desafio é sintonizar o coração no coração de Deus. Para mim, tudo o mais é consequência deste desafio, e quem dá conta dele viverá com alegria os demais.

4 – Qual é seu sonho de Igreja, de sociedade e de vida religiosa?

Quando minha diocese de origem foi instalada, falavam que ela seria uma presença nova do Cristo Pastor na terra santa da Baixada. Trago comigo este sonho: uma igreja que seja sempre sinal da novidade do Evangelho, sinal do amor misericordioso de Deus, que ajude pessoas, grupos e povos a descobrir e valorizar o que tem de bom em si mesmos. Uma igreja de comunidades, onde a fraternidade seja a grande marca. Uma igreja ministerial, sinodal, na qual as diferenças não sejam marcadas pelo poder, mas pelo serviço. Uma igreja apaixonada e apaixonante, que busque viver o Evangelho em cada opção, por menor que seja. Uma igreja pobre e para os pobres, conforme tem impulsionado o Papa Francisco.

Uma sociedade na qual haja lugar para todos. Sonho com uma sociedade onde não se mate ou descrimine alguém por crer, viver, ou sentir diferente de mim; onde o outro possa ser visto como dadiva e não como ameaça. Uma sociedade na qual golpes de estado e reformas, que retirem direitos, sejam impensáveis!

Quanto à vida religiosa, ela é um caminho pedagógico para uma forma de seguimento de Jesus. Sonho uma vida consagrada como caminho de busca a Deus, de homens e mulheres que testemunhem que o seguimento de Jesus realiza uma pessoa, e pode nos fazer tomar escolhas arrojadas. Como Francisco de Assis, que propôs que se viva o Evangelho sem glosa, sem desculpas, para não abraçar a radicalidade. Sonho com uma vida religiosa que seja memória do que a Igreja seja e pode ser. Um ensaio da fraternidade que sonhamos viver em todos os espaços.

5 – Como é ser sinal/testemunho entre as juventudes no novo começo do Instituto Marista?

Vivendo o que o padre Champagnat nos propôs: estando presente, próximo aos jovens, sendo feliz em partilhar com eles a trajetória, em ouvir seus sonhos e seus desafios. Ajudando-os a fazer escolhas e a pôr para fora o que existe de melhor neles mesmos. Quando falamos de um novo começo precisamos nos reportar a La Valla. São Marcelino tinha uma grande paixão por Jesus, poucos recursos e muita disposição de enfrentar os desafios. Para ser sinal ou testemunho entre as juventudes, o mais importante não são os recursos, mas a paixão por Jesus e a disposição para trabalhar. Que no coração de cada marista de Champagnat haja uma voz interior que diga “não posso ver um jovem sem o desejo de lhe dizer o quanto Deus o ama”. Essa é a nossa parte. No mais, os jovens nos ensinarão o caminho, Maria nos protegerá na estrada e Jesus estará onde afirmamos a cada celebração dominical: “no meio de nós”.

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