Foto: Ascom /PMBCN

 

“Amor à primeira vista aos Irmãos Maristas”

Ir. Rafael Ferreira Júnior

Atualmente, na coordenação do Centro de Estudos Maristas (CEM) e do Historial Marista de Apipucos (HMA), o Ir. Rafael Ferreira Júnior já atuou em diferentes campos de missão na Província Marista Brasil Centro-Norte: já foi ecônomo, superior de comunidade, diretor de obra (CMJ), professor, coordenador de comissões, membro de Grupos de Trabalho (Província, Brasil, Instituto) e formador de novos Irmãos. Esta trajetória religiosa começou cedo, e de forma simples, na convivência com sacerdotes e com pessoas consagradas.

Quando conheceu os Maristas, foi “paixão à primeira vista!”; decidiu que seria nesta congregação que atuaria na vida religiosa e fraterna, vivendo experiências tão diversas quanto encantadoras. Desde o ingresso na casa de formação, em 25 de janeiro de 1998, até a profissão perpétua, realizada em 8 de janeiro de 2008, o Ir. Rafael diz que tudo valeu a pena, “minha vocação foi o encontro de duas almas: a minha e a do Instituto Marista. Desde então, entre realizações e frustrações, tenho sido agraciado por Deus de uma forma maravilhosa”, declarou o Irmão.

Quer conhecer um pouco mais sobre a história deste potiguar, que nasceu na pequena cidade de Tangará? Leia a entrevista abaixo e saiba como o Ir. Rafael conheceu os Irmãos Maristas e como entrou para a congregação.

1)  Ir. Rafael, como se deu o despertar vocacional? Nos conte um pouco deste processo, e das possibilidades que o senhor teve/viu na vida eclesial, até chegar aos Irmãos Maristas.

Vocação para mim é mistério, não no sentido de algo escondido, ainda não revelado, mas de algo que procede de Deus, por iniciativa livre e pessoal Dele. Tampouco se trata de algo mágico, etéreo, fora do espaço e do tempo. Digo isto para afirmar uma convicção que sempre me acompanhou: meu chamado à vida religiosa não teve nada de especial! Não ouvi vozes me chamando, não tive visões sobrenaturais e muito menos certeza absoluta – ao menos no início – de que deveria ser Irmão Marista.

Meu despertar vocacional, pelo que me lembro, se deu de forma simples, no cotidiano vivido na normalidade de um jovem comum. Posso afirmar com certeza que a inserção eclesial, a atuação social na comunidade, e a convivência com sacerdotes e com pessoas consagradas na vida religiosa foram elementos decisivos em minha caminhada vocacional. O fator decisivo, acredito, foi o acompanhamento com as religiosas (freiras) que viviam em minha paróquia. Descobri-me tão atraído pelo estilo de vida que elas levavam que chegou um momento em que tal atração se tornou irresistível. Estava claro, então, que eu queria ser religioso. Uma dúvida, contudo, persistia: em qual congregação religiosa? Havia tantas!

2) No livro Simplesmente Irmãos, o senhor relata que quando os Irmãos Maristas entraram em sua vida, o senhor nem sequer sabia da existência deles. Como foi o seu primeiro contato com os Maristas, como aconteceu?

Os Irmãos Maristas foram, de fato, uma grande surpresa na minha vida, em minha busca vocacional. Quando os encontrei, foi amor à primeira vista. Estava ali, neles, tudo o que eu buscava. A sensação era a de estar mesmo apaixonado. Desde então, tudo o que era marista passou a ter lugar em minha mente e, aos poucos, em meu coração também. Era o que eu queria ter. Era, sobretudo, o que eu queria ser. Acho que o que eu vivi pode ser ilustrado pelo exemplo dado por Jesus no Evangelho:  o de um homem que descobriu uma pedra muito preciosa em um certo campo, e que decidiu vender o que tinha para poder comprar aquele campo. Tudo por causa da pedra preciosa escondida nele (cf Mt 13,44).

Meu primeiro contato com o Instituto Marista foi por meio de material vocacional impresso. Só alguns anos depois de ter lido a biografia de Marcelino Champagnat e de trocado muitas cartas com os animadores vocacionais, é que tive contato pessoal com os Irmãos. Um diferencial foi a acolhida fraterna e alegre que os Irmãos me ofereceram: eles me viram, se importaram comigo e, com gestos concretos, me fizeram ver que eu era bem-vindo entre eles. O quarto que me ofereceram – limpo, arrumado e com meu nome na porta – permanece em minha memória como símbolo da delicadeza, da atenção e do carinho maristas. Cedo percebi que os Irmãos refletiam, em seu fazer, o espírito de Maria, a quem eu aprenderia a chamar simplesmente de Boa Mãe.

3) “Seja serviçal, observador da regra e honre o bigode” – foi com essas palavras que o senhor foi recebido pelo Ir. Arlindo, quando decidiu ser Irmão Marista, certo? Como foram os primeiros momentos na congregação, até a profissão perpétua?

A sensação que tenho é de que Deus – que me chamou – tem cuidado de mim desde o momento em que eu tive coragem de dizer sim a Seu chamado. Os primeiros dias e meses na casa de formação foram maravilhosos. Tudo era novidade. Quanta coisa para descobrir, quantas pessoas a conhecer! Eu me sentia instigado a prosseguir. Queria saber, entender, experimentar.

Não demorou muito para que as dificuldades dessem as caras em minha porta. Saudades da família, dos amigos, de minha paróquia de origem, de meu antigo estilo de vida. Junte-se a isto as dificuldades próprias de se viver em comunidade. Éramos 20 formandos, todos como pedras brutas, que, com frequência, se chocavam. As dores eram inevitáveis. Sem saber, Deus nos estava moldando para ficarmos mais parecidos com seu Filho Jesus, o modelo perfeito de Homem.

Quanto a mim, posso dizer que vejo refletida no Eclesiástico a minha experiência daquele momento: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus (…) prepara a tua alma para a provação (…) não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo caminho da humilhação.” (cf. Eclo 2,1-6). As dificuldades das etapas iniciais – que não foram poucas nem leves – me fizeram amadurecer como pessoa, como cristão e como vocacionado marista.

Desde meu ingresso na casa de formação, no dia 25 de janeiro de 1998, até minha profissão perpétua, no dia 8 de janeiro 2008, vivi experiências tão diversas quanto encantadoras. Experimentei alegrias e dores que encheram de sentido minha vida. Olhando para trás, como o poeta, eu me pergunto: “valeu a pena?” . E sirvo-me das próprias palavras dele para responder: “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Minha vocação foi o encontro de duas almas: a minha e a do Instituto Marista. Desde então, entre realizações e frustrações, tenho sido agraciado por Deus de uma forma maravilhosa.

4) Desde a profissão perpétua até o Centro de Estudos Maristas (CEM), como foi a sua caminhada na Instituição? Por onde passou?

Nunca tive pretensão quanto a cargos e funções dentro da Província. Para mim, basta ter assegurada a possibilidade de uma experiência de vida fraterna em comunidade que me faça sentir-me amado e que me permita capacitar-me para a missão educativa e evangelizadora entre crianças, adolescentes e jovens. A despeito de minhas limitações que, sem falsa modéstia, são muitas, meus Irmãos sempre confiaram em mim e me deram muitas oportunidades de contribuir na missão marista em variadas frentes.

Enquanto fui vivendo minha consagração religiosa no Instituto – o mais importante – fui também atuando em diferentes campos de missão como ecônomo, superior de comunidade, diretor de obra (CMJ), professor, coordenador de comissões, membro de Grupos de Trabalho (Província, Brasil, Instituto) e formador de novos Irmãos. Mais recentemente, estou na coordenação do Centro de Estudos Maristas (CEM) e do Historial Marista de Apipucos (HMA).

5) Para finalizar, como tem sido o tempo no Centro de Estudos Maristas (CEM), acompanhando a história marista e, ao mesmo tempo, a vivendo conforme os preceitos da congregação?

O trabalho no Centro de Estudos Maristas tem me permitido tocar a própria essência do Instituto Marista: seu carisma, sua história. Nosso espírito institucional deixou marcas em tudo de que foi se servindo para estender-se através dos tempos. Assim, uma mesa, um livro, um hábito, uma caneta ou uma fotografia me dizem muito sobre quem somos, para quê (e para quem) nascemos e o que não podemos descuidar se quisermos continuar sendo o que Champagnat sonhou para nós, seus continuadores. Aquilo que fazemos no CEM – recolher, conservar e divulgar o patrimônio histórico marista provincial – é parte da mesma missão marista. É assim que nos sentimos em nosso trabalho: parte de um todo maior, com o qual contribuímos a partir da especificidade de nosso serviço.

Outro segmento importante de nossa atuação está no campo da formação em patrimônio/carisma marista. No CEM, recebemos Irmãos, formandos, leigos, professores, e estudantes que desejam algum aprofundamento em temas de vida marista. Também são muitos os pesquisadores – de dentro e de fora da instituição – que acessam nosso acervo bibliográfico em busca de fundamentação para seus estudos. Entendemos que faz parte de nossa missão secundar todos aqueles que nos buscam, com suas diferentes demandas, compartilhando com todos os tesouros – materiais e imateriais – de nossa história.

 

Acesse as outras entrevistas

1 Comment
  1. Leida Maria Elias De Moura Menezes

    PARABÉNS Irmão Rafael, entendo perfeitamente esse AMOR À PRIMEIRA VISTA, sou ex-funcionária, mas MARISTA SEMPRE E DE CORAÇÃO!
    Que a BOA MÃE lhe fortaleça CONTINUAMENTE esse ESPÍRITO de CHAMPAGNAT!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Limpar formulárioEnviar