Da esquerda para a direita: Ir. Renato Augusto da Silva, Ir. Benê de Oliveira, da Província Marista Brasil Centro-Sul e Ir. Natalino Guilherme de Souza – Foto: divulgação

O mundo Marista sempre fez parte da vida do conselheiro provincial, da Província Marista Brasil Centro-Norte, Ir. Natalino Guilherme de Souza. Desde pequeno, quando foi aluno do Colégio Marista de Colatina (ES), até quando foi fazer a sua primeira vivência em uma comunidade, junto aos Irmãos, no Aprendizado Marista Padre Lancísio, em Silvânia (GO), já na adolescência. Segundo ele, “Deus foi construindo e tecendo junto dele este primeiro amor”, se referindo à espontaneidade que lidava com os maristas.

Foi na vivência com os Irmãos da comunidade de Silvânia que o Ir. Natalino, que também ocupa o cargo de secretário executivo, da União Marista do Brasil, descobriu a sua vocação. Lá, ele entendeu o que os Irmãos faziam e, sobretudo, o porquê – e decidiu, a partir dali, que queria ser Irmão, pois isso o proporcionava ajudar as pessoas, conhecer culturas e viajar o mundo.

E toda esta vocação precoce advinha do mistério, que, segundo ele, foi motivada pela educação cristã de uma família de muita fé, principalmente da mãe, uma mulher de muita oração e da Igreja. Depois de decidida a vocação, Ir. Natalino começou a caminhada, que, nem sempre fora fácil, mas as dificuldades não o impediram de continuar a jornada e chegar onde ele está. “Não sou homem de desistir, porque eu sempre fui muito convencido internamente daquilo que eu realmente queria para minha vida”, declarou o Irmão.

Quer conhecer um pouco da trajetória deste Irmão corajoso, empolgado, animado e alegre – como ele mesmo se define? Na entrevista abaixo, a gente conta uma parte da história, desde quando ele era apenas um garotinho do ensino fundamental, do Colégio Marista de Colatina (ES), até os dias atuais!

1) Quando e como o senhor entrou para o mundo Marista? O primeiro contato foi quando o senhor foi estudar no Colégio Marista de Colatina (ES)? Até quando ficou por lá?

Na minha família, somos em cinco irmãos, e minhas irmãs mais velhas e meu irmão mais velho já haviam estudado no Colégio Marista de Colatina. À época, meu irmão mais velho havia saído do Marista e me carregou com ele, para eu cursar o primeiro ano, do Ensino Fundamental, nesta outra escola em que ele estava. Mas, eu não me adaptei e pedi à minha mãe que me colocasse no Marista de Colatina e, assim, ela o fez.

Já no Colégio Marista, percebi que “aquilo” era a minha vida! Tudo acontecia no colégio, até as férias eu passava visitando a escola; eu conhecia os Irmãos e as comunidades de Irmãos que passavam pelo colégio e eu convivia muito bem com os Irmãos, pois a comunidade ficava na lateral da escola, com a sua casa, anexa ao colégio. Lá, havia horta e jardins, então eu me propunha, desde pequeno, já com os Irmãos da comunidade, a ir lá aos sábados para cuidar da horta, jogar, tomar banho de piscina e assistir televisão. Era um espaço que eu curtia muito, me sentia em casa naquela comunidade, na companhia dos Irmãos. Já adolescente, quando deixei o colégio, fui convidado por um Irmão a entrar no grupo vocacional.

Eu tinha muita resistência no início, porque, embora eu gostasse muito dos Irmãos e conhecesse alguns que fossem amigos da minha família, eu não sabia o que significava a vocação de Irmão. O fato é que, depois de tanta insistência, eu acabei aceitando participar de um desses encontros e, muito rapidamente depois, gostei da experiência e fui convidado a fazer uma vivência com os Irmãos para ver se eu gostaria de viver esta vida, de ter esta opção.

Foi quando me enviaram para Silvânia (GO), onde temos uma escola social que acolhe os meninos do interior para estudar durante a semana. Naquele momento, a escola era um internato, os meninos dormiam lá e iam para casa no final de semana. Então foi assim um pouco minha trajetória. Mas o colégio e a comunidade dos Irmãos sempre foram muito presentes na minha vida e na minha infância. Me encantavam, faziam parte das minhas conquistas, eu cresci no colégio, eu conheci as comunidades e foi aí também que eu acredito que Deus foi construindo e tecendo comigo este primeiro amor.

2) Quando foi que o senhor sentiu os primeiros sinais da vocação?

Foi justamente depois da primeira experiência de um encontro vocacional e da insistência daquele Irmão que eu comecei a entender o que os Irmãos faziam e sobretudo o que eles eram. A partir daí eu comecei a me imaginar fazendo a mesma coisa e aquilo me deu uma alegria imensa, primeiro porque, desde muito pequeno, eu já falava lá em casa para minha mãe que eu queria ser jornalista televisivo e eles perguntavam o porquê – e eu respondia: porque eu queria conhecer muitos países, muitas culturas e ajudar muitas pessoas do outro lado do mundo.

Então eu já tinha essa percepção de que eu queria sair para ajudar as pessoas e, naquele encontro, ao escutar onde os Irmãos estavam no mundo e o que eles faziam, aquilo iluminou meu coração de tal forma que eu disse “é isso que eu quero para a minha vida”. Então, depois da primeira experiência em Silvânia (GO) eu tive a certeza e a razão de que aquilo era para a minha vida.

3) Irmão, na segunda edição do livro Simplesmente Irmãos, o senhor fala que a sua história vocacional tem relação com o mistério, inclusive cita a “educação pelo mistério”. Pode nos contar um pouco sobre isso, que mistério foi esse?

Eu sou de uma família muito simples e muito pobre, mas também de uma família de muita fé. Então a presença da Igreja na minha vida, desde criança, sempre foi fundamental, sobretudo pela minha mãe, que era uma mulher – e ainda é – uma mulher de muita oração e de Igreja. Então, eu costumo entender que eu fui educado pelo mistério, porque, e, sobretudo, como o profeta, eu fui vencido por ele, pois sempre fui muito arredio, uma pessoa muito crítica, um adolescente muito rebelde, bastante ousado, propositivo, e eu percebia que isso ia me levar longe, ia me levar a algum lugar.

Mas eu precisava também entender para onde era que eu estava indo, então eu acredito que depois da entrada na casa de formação, depois de me encontrar com os Irmãos de outros países, de viver algumas experiências com os Irmãos, eu fui entendendo que existia e existe um mistério que foi me tecendo, que foi me educando no caminho.

Atualmente, eu escrevo algumas coisas, sobretudo poesias, e eu sempre digo que Jesus me apaixona, ele é minha angústia, mas é, ao mesmo tempo, meu bálsamo. Então é essa educação, é esse mistério de me sentir próximo, de me sentir ao lado de Jesus, de escutar a palavra dele, de passar e viver a palavra dele para as pessoas é que marca a minha trajetória vocacional. Eu sempre tive essa sensação de que algo muito maior do que eu me conduzia e cuidava de mim.

4) Nos conte como foram os primeiros anos da trajetória Marista – onde começou, os primeiros trabalhos, as descobertas e dificuldades.

Eu fiz as primeiras experiências vocacionais na minha cidade, Colatina (ES), e logo descobri que essa era uma vocação, uma vida que se encaixava perfeitamente com o que eu queria construir como pessoa, embora houvesse muita dificuldade para entender como isso iria acontecer.

A minha saída da casa da minha família, dos meus pais, não foi traumática, porque eu tinha muito desejo de fazer esta experiência, então eu fui para Silvânia (GO) muito esperançoso, muito desejoso de viver tudo que viesse, sem nenhuma expectativa – aliás, esta é uma característica minha, viver sem expectativas. Eu sempre ia de coração aberto, sempre disposto a enfrentar o que viesse, a dar conta do que viesse. Para além disso, eu sempre fui muito empolgado, animado e corajoso, é uma marca do meu caminhar entre os Irmãos, essa alegria e esse dinamismo.

Comecei no Aprendizado Marista Padre Lancísio cuidando dos meninos, dando aulas para os pequenos; depois os Irmãos me colocaram para cuidar das hortas e a participar de outras atividades extracurriculares – fazia parte do grupo de capoeira, então eu vivia uma vida muito feliz. Eu já tinha a sensação de que aquela era de fato a minha casa! Eu já cheguei plantando, colhendo, mudando espaços e os Irmãos viam isso com muito bons olhos porque acreditavam que eu estava me realizando naquilo tudo.

É claro que algumas dificuldades vieram, mas eu sempre fui muito convencido internamente daquilo que eu queria para minha vida, embora não soubesse muito bem como consolidar, as dificuldades não me congelaram. Nunca fui um homem de difícil adaptação, cultura, comida, modos, eu sempre entendi que todas as culturas também são minhas, porque eu sou humano, e todas as pessoas são pessoas boas em potencial me ajudam a crescer – esse pensamento e esta disposição interior foram me permitindo viver tudo que eu vivi até hoje, sem nenhum tipo de arrependimento.

5) Para finalizar, como é contribuir com a Instituição agora que o senhor é o conselheiro provincial da Província Marista Brasil Centro-Norte e secretário executivo da União Marista do Brasil (UMBRASIL)?

O momento atual da minha vida, eu tenho muito que agradecer, pois eu percebo que também é um fruto que eu estou colhendo desta disponibilidade de coração, da abertura que eu tenho para a vida. Eu sempre vi como oportunidade as colocações (cargos) que a mim foram atribuídas, para que eu pudesse contribuir da melhor forma, que que conseguisse ir com o coração muito aberto também.

Então hoje, como secretário executivo da União Marista do Brasil acredito que o nosso trabalho, mais do que o meu trabalho como secretário executivo da equipe, tem se tornado fundamental para o caminho que a gente quer construir neste País, que é um caminho de unidade das três províncias.

Depois, como conselheiro provincial, da Província Marista Brasil Centro-Norte –  inicialmente, eu fiquei um pouco assustado, porque sinto que é uma grande responsabilidade cuidar da administração, do zelo por uma província tão grande como a nossa, mas, ao mesmo tempo, eu consigo enxergar o rosto dos meus Irmãos e me sentir companheiro de caminho, um companheiro de caminho que ocupa um lugar nesta caminhada que logo, logo será outro lugar, e que as pessoas que passarem por mim, neste momento e neste lugar, eu possa contribuir para que elas sejam cada vez mais elas mesmas, mas felizes e mais realizadas.

E, sobretudo, que a nossa Província trabalhe fielmente e com consciência da sua missão nestes 16 estados em que estamos presentes. Então, essa tem sido a minha motivação principal, gosto muito de um trecho da música do Milton Nascimento que é “deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo”. É isso, eu tenho caminhado com esta filosofia, acredito que a luz que brilha em mim não é minha, ela vem de outro lugar, ela vem de alguém muito maior do que eu, mas eu estou tranquilo, eu estou em paz, e acho que é por isso que ela continua brilhando e eu espero que ela continue a brilhar ainda mais para iluminar o meu caminho, o caminho dos meus Irmãos e dos leigos que estão conosco nesta Província!

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