Queridos Maristas de Champagnat,
Nem sequer por um instante duvido que Maria continua a nos conduzir e garantir que nada nos falte. Carregamos seu nome porque assim o quis nosso Fundador, Marcelino Champagnat, para que, a partir do exemplo dela, vivêssemos e fôssemos fiéis aos desígnios fundacionais de sermos apóstolos das infâncias, das adolescências e das juventudes. Ser fiel é ser sincero e agir com fidelidade para aquilo que se propôs. Para alguns, é sentença; para nós, é motivo de alegria sermos firmes, constantes e perseverantes em fidelidade ao nosso Carisma. Em Roma, onde estive para a Reunião de Provinciais e Superiores de Distrito no Instituto Marista, fidelidade uma das palavras que ecoou com frequência nos debates e diálogos que tecemos. Maria é um exemplo de fidelidade. Com Jesus, ela é uma expressão completa da fidelidade a Deus e à Sua ação no mundo, pois com ela aprendemos a coerência ao nosso propósito, a fidelidade ao carisma e à nossa vocação, a constância de nossas ações e o acolhimento em nosso labor cotidiano.
Vivemos uma busca constante pelo Deus vivo, por uma maior intimidade com Ele. Deus é a resposta! E é a procura desta resposta que nos move em direção a Ele no desenrolar de nossas vidas. Fidelidade e fé são palavras latinas que partilham da mesma raiz: fidelis. A busca por Deus deve ser um caminho de fidelidade e coerência, e como Maristas temos não apenas o exemplo de nossa Boa Mãe, mas também o de São Marcelino Champagnat. Irmão Lourenço, um dos primeiros Irmãos do Instituto, escreveu que o Fundador punha toda a confiança em Deus e como riqueza só quis a Providência. “O tempo em que não estivesse no trabalho braçal era para rezar, meditar e nos instruir”, contou o Irmão. A fidelidade dele não era apenas repetir aquilo proposto, mas responder às necessidades que o cercavam e para as quais era convocado.
Hoje, após mais de 180 anos desde a morte de Marcelino, somos chamados a responder ao nosso entorno com vigor criativo e renovado, entusiasmo e fé. Fomos convocados a dar continuidade a esta obra com a mesma coerência e acolhimento que ele nos legou. Nosso Fundador tinha a capacidade de olhar além e é isso que Deus pede de cada um de nós hoje. Assim, penso que uma primeira atitude humilde, de nossa parte, é uma volta à fonte inicial, à gênese de fundação do Instituto para receber, de Marcelino e dos primeiros Irmãos, a essência, a alma de nossa espiritualidade que não pode se perder ao longo do caminho. Não há como sermos fiéis sem que estejamos conectados com a verdade que nos trouxe até aqui.
Neste ano, em que celebramos os 20 anos de nossa Província, faço minhas as palavras de Champagnat: mantenho sempre firme a convicção de que Deus quer esta obra e Jesus e Maria sempre serão o apoio sólido de minha confiança. Para que possamos continuar a responder com assertividade, é essencial que retornemos à fonte, ao primeiro amor, para nos lembrarmos do carisma, da espiritualidade, da missão e do estilo próprio e fraterno de sermos e de caminharmos juntos como irmãos. Devemos continuar atentos à sensibilidade de Maria, que conosco caminha. A fidelidade dela é para nós modelo de perseverança. Nada deve ser empreendido sem que a ela recorramos, pois ela nos traz nos braços e no coração junto a Jesus.
Queridos Irmãos, leigos e colaboradores, é tempo de reafirmarmos o nosso sim e a nossa adesão ao Carisma Marista. Não nos cabe negligenciar, trair a confiança que em nós foi depositada. Cada criança que chega a nós em nossas escolas é o sinal de renovação do compromisso com o sonho de Champagnat, que soube olhar além.
Esses 20 anos de história e de vida só foram possíveis pelas mãos e coração dos Irmãos e dos muitos leigos e leigas que caminham unidos nesta jornada. Eu disse acima sobre nosso “estilo próprio de sermos e de caminharmos juntos”, pois é somente na soma das vocações, de vidas, de entregas e de sonhos que tornamos possível a continuidade dessa instituição que se renova, que muda constantemente para continuar sendo a mesma. Portanto, a fidelidade é a condição que sinto ser mais necessária ao nosso fazer contemporâneo. Não basta dizermos que somos fiéis aos desígnios, temos que reagir e traduzir essa fidelidade ao amor primeiro em nossas ações. Fidelidade está além de compromisso, está no testemunho, na coerência, na atitude.
Na partilha fraterna com as demais Províncias e Distritos em Roma, vi a grandiosidade da obra de Champagnat e o constante esforço de todas as províncias em defender a vitalidade e a viabilidade de nosso Carisma. No mundo todo, partilhamos os mesmos ideais, sonhos e, principalmente, a mesma missão. É na vida gerada em nossa Província e nas demais que está a prova mais exigente da fidelidade: o tempo. É fácil ser fiel por alguns dias, mas por toda uma vida é um desafio que exige ser abraçado todos os dias. A lealdade não deve existir apenas nos bons momentos, mas principalmente nas tribulações. E elas foram e serão, ainda, muitas ao longo de nossa história. Porque, assim como foi para Maria, a fidelidade não cobrou apenas bons instantes, mas uma vida toda de acolhimento, participação ativa, silêncio e aceitação. “Faça-se em mim segundo a Tua palavra” (Lc 1,38) é a maior expressão da fidelidade, pois consente e acredita nos desígnios de Deus sem reservas, com o coração inteiro. Que, em nossos espaços educativos, comunidades e lares, possamos acreditar na Providência Divina, que a ação de Deus acontecerá e que estejamos disponíveis e abertos a ela, conforme a caminhada e exigência de cada passo.
Convido todos ao exercício da presença de Deus, à devoção a Maria, à confiança em sua proteção e, ainda, à prática das virtudes da simplicidade e da humildade. Perseverando, fielmente, no santo exercício da presença de Deus, alma da oração, da meditação e de todas as virtudes, conforme preconizam as nossas Constituições. A partir dessa ação, devemos avançar, aprofundando o sentido da espiritualidade marista, vivendo-a e testemunhando-a em fidelidade criativa, de acordo com os contextos em que estamos inseridos, e promovendo, em todos os níveis, experiências, vivências, programas e itinerários espirituais que nutram, deem sentido e integrem a nossa vida e a nossa missão como Maristas de Champagnat.