O que fazer quando me sinto triste? Como faço para controlar meus sentimentos, quando estou com raiva? O que fazer se me comparo muito? Essas foram algumas das perguntas feitas pelos estudantes do 6º e 7º anos do Colégio Marista Nossa Senhora da Penha para a psicóloga Roberta Marianelli, profissional que esteve na unidade para conversar com os estudantes sobre saúde mental.
Essa foi uma maneira criativa de obter informações sobre o universo dos adolescentes. Para tanto, no mês de setembro, foram elaboradas perguntas que não tinham obrigatoriedade de identificação, as quais foram previamente enviadas para a psicóloga.
Segundo a profissional, é importante a abordagem dessa temática com o público adolescente, pois estão vivenciando transformações biológicas e sociais, momento em que as crenças centrais e intermediárias, estão sendo formadas, ou seja, debater como ele vai se ver, ver o mundo e o futuro é fundamental.
“Melhorar a autoestima e se libertar de crenças que muitas vezes não fazem parte da realidade delas vai melhorar e muito a qualidade de vida desta pessoa”, destaca.
Para os pais, a Psicóloga orienta sempre a valorizar o afeto e o acolhimento e, diante da percepção de que o adolescente não está saudável, os responsáveis devem buscar orientação profissional. A escola também tem papel fundamental.
“Muitas vezes é o colégio que percebe que a criança e o adolescente têm algo que precisa ser tratado e cabe à instituição alertar a família, orientar e apoiar neste processo”, explica.
Para o Colégio Marista abordar este tipo de assunto com os estudantes, é de extrema importância, pois promove uma comunicação eficaz e segura diante da diversidade de informações que os adolescentes encontram nas redes sociais, que muitas vezes não agregam conhecimento.
Isso porque o colégio é um espaço de diálogo e de formação de opinião, fatores que influenciam a formação humana global.
A coordenadora Pedagógica do Ensino Fundamental anos finais, Eliane Martins Maia, explica que o diálogo com a Psicóloga foi produtivo e importante para o desenvolvimento do protagonismo de nossos estudantes.
A dinâmica de ler as perguntas, sem precisar de identificação, facilitou a quebra de barreiras comuns da faixa etária, em relação ao medo da exposição. A interlocução foi pautada em sentimentos e atitudes que causam sofrimento.
Além disso, foi dada orientação sobre o que fazer para lidar com o que afeta nossa a saúde mental e com as consequências da falta de empatia, da prática do bullying e da falta de diálogo em família, realidade vivenciada todo o tempo por nossos adolescentes que precisam de práticas pedagógicas que visam ao desenvolvimento integral, considerando-os sujeitos de aprendizagem, com suas singularidades.
Confira na íntegra as dúvidas apontadas pelos alunos e as orientações fornecidas pela psicóloga Roberta Marianelli.
Como posso parar de sentir raiva quando alguém me magoa?
Quando estiver sentindo raiva, uma forma de para lidar com esse sentimento é identificar e desafiar os pensamentos que te deixam com raiva. Vale também refletir sobre os pensamentos que surgirem quando se sentir magoado, questionando a validade deles.
Além disso, pode-se também utilizar técnicas de relaxamento e de respiração diafragmática, buscando substituir os pensamentos contaminados pela raiva por outros mais equilibrados.
No processo de resolução de conflitos, uma conversa sobre como se sente também é muito importante. Considerar o ponto de vista da outra pessoa pode promover a compreensão e reduzir a intensidade dessa emoção desagradável, a raiva.
O que fazer quando nos sentimos tristes?
O primeiro passo para lidar melhor com a tristeza é a validação desse sentimento. Tente identificar a causa da tristeza e, se possível, compartilhe seus sentimentos com alguém de confiança.
Escrever também ajuda a organizar esses pensamentos. Praticar atividades que normalmente te trazem conforto, como ouvir música, praticar atividades físicas ou dedicar um tempo a um hobbie podem ajudar.
Se a tristeza continuar, ou afetar significativamente sua vida, busque apoio profissional para ajudar nesse processo.
Como faço para controlar meus sentimentos, quando estou com raiva?
Na terapia cognitivo-comportamental (TCC), o manejo das emoções sempre se inicia com identificação e modificação de padrões de pensamentos disfuncionais, pois como nos sentimos e nos comportamos é determinada por nossos pensamentos.
Ao perceber sentimentos de raiva, tente pausar e questionar os pensamentos automáticos que associados a ela. Desafie pensamentos desagradáveis exagerados ou irracionais, buscando uma perspectiva mais equilibrada
Além disso, pratique as técnicas de relaxamento, como respiração diafragmática para acalmar a resposta física à raiva. Desenvolver habilidades de comunicação assertiva e resolução de conflitos é fundamental para lidar construtivamente com situações desafiadoras.
O que fazer se me comparo muito?
Identifique os momentos que está se comparando e observe os pensamentos que surgem. Desafie esse pensamento questionando a sua validade e considerando evidências contrárias.
Praticar a autocompaixão e desenvolver a autoestima, reconhecendo suas próprias conquistas e valorizando suas qualidades únicas, também são de extrema importância.
Estabelecer metas realistas e focar em seu processo, ao invés de se comparar constantemente com os outros, pode promover uma perspectiva mais saudável e positiva de si.
Sou depressiva. O que fazer para aceitar isso?
Aceitar a depressão envolve compreende e reconhecer suas emoções sem julgamento.
O primeiro passo é identificar os padrões de pensamentos disfuncionais associados à depressão. O segundo passo é trabalhar na modificação desses padrões, desafiando pensamentos irracionais e substituindo-os por pensamentos mais realistas e equilibrados.
Também é valido que se concentre em comportamentos saudáveis, como estabelecer pequenas e alcançáveis metas, aumentando gradualmente sua atividade física e social. Manter um registro diário das emoções, para identificar os padrões disfuncionais a serem trabalhados na terapia, também é válido.
Busque um profissional para a orientação específica e estratégias personalizadas. Aceitar a depressão não significa resignar-se a ela, mas sim adotar uma abordagem ativa para gerenciar seus efeitos e trabalhar para uma melhor qualidade de vida.
O que fazer durante uma crise de ansiedade?
A terapia cognitivo-comportamental sugere algumas técnicas:
- Respiração diafragmática: pratique respiração lenta e profundamente para acalmar o sistema nervoso. Inspire profundamente pelo nariz, segure por alguns segundos e expire lentamente pela boca.
- Identificação de pensamentos distorcidos: observe e questione pensamentos ansiosos irracionais. Tente substituí-los por pensamentos mais realistas e equilibrados.
- Foque no presente: concentre-se no momento presente usando as técnicas de atenção plena (mindfulness). Foque em seus sentidos e evite antecipar cenários futuros negativos ou catastróficos.
- Técnicas de relaxamento: além da respiração diafragmática, existem outras técnicas de relaxamento, como relaxamento muscular progressivo ou visualização positiva.
- Desafio de crenças catastróficas: desafie os pensamentos catastróficos perguntando a si — qual a pior coisa que pode acontecer? Há evidências que sustentem esses pensamentos?
- Distração positiva: envolver-se em atividades que proporcionam prazer ou distração saudável, como ouvir música, ler ou ter um hobbie.
Como parar de comer, quando estou estressada?
Para romper o hábito de comer como resposta ao estresse, a terapia cognitiva sugere algumas estratégias.
Desenvolver autoconsciência, identificando os padrões alimentares que se relacionam ao estresse, observando quando e por que você tende a comer em momentos estressantes.
Manter um diário alimentar e emocional, para anotar o que você come, quando e como está se sentindo, permite a identificação de padrões específicos.
Também é necessário criar estratégias alternativas para lidar com estresse que não envolva comida, como praticar exercícios físicos, meditar, escrever ou conversar com alguém de confiança. Busque apoio profissional para desenvolver estratégias personalizadas.
Como se recuperar dos traumas do passado?
Não existe outra forma para lidar com traumas do passado, a não ser falando sobre isso. A identificação dos pensamentos automáticos relacionados ao trauma, além das emoções sentidas a partir desses pensamentos, são de extrema importância para ressignificação do trauma.
A abordagem deve ser feita gradualmente e de maneira controlada. A exposição controlada de memórias traumáticas, em um ambiente terapêutico e seguro, sem dúvidas, ajudam a reduzir a intensidade emocional associada.
O desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para lidar com as emoções intensas relacionadas ao trauma também são de extrema importância para que o paciente se sinta seguro para experimentar esse processo. Isso pode envolver técnicas de relaxamento, como a respiração diafragmática.
A recuperação de um trauma é um processo individual e a assistência de um profissional é frequentemente crucial para orientar esse processo de maneira eficaz e segura.
Como parar de se automutilar?
A automutilação entre adolescentes pode ter diversas causas, e cada caso é único. Alguns fatores são: problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, transtornos de personalidade; dificuldades emocionais, como problemas familiares, bullying, pressões acadêmicas; busca por controle.
Além disso, em alguns casos, a automutilação pode ser uma tentativa de lidar com sentimento de falta de controle sobre suas vidas ou expressão de dor interna, quando o adolescente tem dificuldade de falar sobre o que sente e recorre à automutilação para se expressar
É fundamental abordar essas questões por meio de apoio emocional, comunicação aberta e, quando necessário, buscar a orientação do psicólogo.
Para lidar com esse comportamento disfuncional, algumas estratégias são:
- Identificação de pensamentos distorcidos: reconheça e desafie pensamentos negativos que levam à automutilação;
- Técnicas de relaxamento: colocar em prática estratégias de relaxamento, como a respiração diafragmática ou o relaxamento progressivo, ações que ajudam a diminuir a intensidade da ansiedade;
- Desenvolver estratégias de enfrentamento: habilidades para enfrentar emoções intensas de maneira saudável.
- Construção de rede de apoio: compartilhar sentimentos com amigos ou familiares, ou com um profissional da saúde.
É crucial procurar orientação de um psicólogo qualificado para adaptar essas estratégias ao caso específico.
Como gostar das imperfeições que não podemos mudar em nosso corpo?
A aceitação das imperfeições do corpo envolve mudanças nos padrões de pensamento e comportamento.
A identificação de pensamentos distorcidos relacionados ao corpo e o questionamento deles é fundamental. Uma reformulação desse pensamento, substituindo autocríticas por afirmações mais realistas e positivas é o segundo passo. Desenvolver o foco nas capacidades e funções do seu corpo, em vez de apenas na aparência, e valorizar seu corpo por aquilo que ele consegue fazer vão proporcionar uma visão melhor de si.
Além disso, reconheça e desafie padrões de beleza impostos pela sociedade, e compreenda que a diversidade de corpos é algo natural. Para casos mais graves, a exposição gradual a situações que envolvam mostrar seu corpo pode ser um caminho para desafiar a ansiedade relacionada à aceitação.
Lembre-se, a aceitação do corpo é um processo contínuo e a terapia cognitivo-comportamental pode fornecer ferramentas valiosas para cultivar uma perspectiva mais positiva em relação ao seu corpo. Se possível, busque orientação de um terapeuta para um suporte personalizado.
Como ser você mesmo?
Ser você mesmo envolve autenticidade e aceitação.
O autoconhecimento, buscar quem você é e o que é importante para você, com certeza vêm em primeiro lugar.
É possível existirem pensamentos autocríticos ou negativos sobre você mesmo, que impeçam você de ser autêntico, nesse caso, também é importante identificar esses pensamentos e questione por que eles ocorrem.
Permita-se sentir e expressar todas as emoções, sem evitar ou reprimi-las. Ao mesmo tempo, estabelecimento de limites saudáveis nas relações é parte fundamental para que se sinta seguro em ser você mesmo, de maneira confortável.